Redação TN/Assessoria
Não faz muito tempo, ouvi de um respeitado professor a seguinte reflexão: a integração entre diferentes fontes de energia funciona como estratégia no curto prazo, mas no longo prazo, o mundo só sobreviverá se abraçar a transição energética.
Além da transição e integração, trabalhar a eficiência nos processos de produção e transformação de energia é uma meta constante no planejamento e na atuação de diversas empresas, com bastante oportunidades de aprimoramento.
Vide o motor à combustão, inventado antes de 1800 e, passados mais de 200 anos, sua eficiência não ultrapassa muito o patamar de 40%. De tudo que é gerado de energia com a queima do combustível, a maior parte não é aproveitada em energia mecânica.
Pode-se estimar, em média, que para cada 1% de ganho de eficiência existe um potencial de redução de 2,5% nas emissões de CO2 equivalente, com base em dados do Governo Americano (EPA).
Enquanto continua a se investir na eletrificação, principalmente no setor de transportes, a decisão da fabricante automotiva Toyota, em recente anúncio realizado no final de julho de 2022, foi investir no aumento da eficiência dos motores à combustão.
A mesma lógica se aplica no ambiente industrial, com o exemplo de um processo que utilize turbinas a gás, as quais, por vezes, possuem eficiência de queima na casa dos 30%. Sempre interessante destacar o conceito de energia útil, a efetivamente aplicada para o fim que se deseja, como exemplo geração de luz, versus a energia total que precisa ser produzida para contabilizar as perdas até se chegar na lâmpada.
A verdade é que ainda há muito espaço para aumentar o aproveitamento energético, até mesmo na aplicação de soluções híbridas que utilizem tanto combustível quanto eletricidade.
O que nos leva à integração energética e as sinergias de aplicar diferentes tipos de energia em um mesmo processo. As oportunidades vão desde integrar empreendimentos de eólica offshore e campos maduros de petróleo para aumento da produção, até plantas de hidrogênio com painéis de energia solar.
Antes de se pensar na transição energética, e aqui cabe um disclaimer com relação ao conceito de transição: não é uma mudança completa da matriz e, sim, o maior percentual de consumo de fontes limpas.
Por isso, petróleo, gás e até mesmo carvão continuarão com sua parcela significativa de contribuição na geração da energia no mundo. Carvão, diga-se de passagem, tem cenário projetado de aumento do volume de consumo global, de acordo com a IEA.
Não é preciso negar as vantagens dos processos de geração de energia mais limpa e o uso de eletricidade como alternativa a queima de combustíveis, principalmente aqueles mais poluentes. Aprofundar o debate sobre a transição energética tem ganhado força em espaços antes exclusivos do mercado de petróleo, por exemplo.
Por outro lado, qualquer análise quanto à substituição de fonte de energia deve considerar o conjunto do sistema energético, a cadeia de valor desde a produção até o consumo final. Nesse ponto, ainda há diversos gargalos e desafios para serem superados, na parte elétrica, como na parte de transmissão e distribuição de energia, não só no Brasil, mas em todo o mundo.
Muito se fala sobre o custo da não descarbonização e os impactos para o planeta com a queima de fontes fósseis. Porém, é preciso abordar um aspecto importante que impacta no desenvolvimento das renováveis - o preço da energia.
A economia da transição energética deve considerar o estímulo que altos preços de um determinado tipo de energia, como os recentes picos dos valores de barril de petróleo e do GNL, acarreta o incremento de participação das novas fontes na matriz energética.
No cenário atual, com maior demanda por gás no mundo e restrições de mobilidade dos recursos energéticos, mais que nunca cabe um olhar específico para os perfis de produção e de consumo regionais. A maior eficiência de consumo de energia, a melhor configuração de integração de fontes e o cenário de transição energética serão priorizados de acordo com o custo de oportunidade para cada país do mundo.
Sobre o autor: Thiago Valejo Rodrigues é formado em engenharia química pela UERJ, tem MBA em Economia de Petróleo e Gás pela UFRJ e pós graduação em Business Intelligence Master - Sistemas Inteligentes de Apoio à Decisão em Negócios pela PUC-Rio. Atua como gerente de Projetos de Petróleo, Gás e Naval da Firjan
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