Contrariando as perspectivas otimistas de expansão do início do ano, as vendas de resinas termoplásticas podem encerrar 2011 em queda ou ficar no zero a zero, segundo especialistas ouvidos pelo Valor. No primeiro semestre, esse mercado cresceu tímidos 2%, desempenho considerado frustrante, uma vez que as estimativas apontavam aumento médio de 7% para o ano. A desova dos altos estoques das indústrias nesses últimos meses e a desaceleração econômica deram um tom baixista para esse segmento.
"Esperávamos um crescimento entre 6% e 8% para 2011 no início deste ano. No segundo trimestre, reduzimos a expectativa para 3% a 4%. Agora, com o cenário mais nebuloso com a crise, contamos com uma estabilidade ou mesmo um recuo nas vendas", disse Otávio Carvalho da consultoria petroquímica Maxiquim.
Levantamento da Tendências Consultoria mostra que a produção de resinas deverá recuar 0,8% em 2011, com vendas 5,1% menores em relação a 2010. Walter Vitto, analista de petroquímica da consultoria, se respalda no desempenho da atividade industrial, que entre janeiro e julho teve crescimento de 1,4%. Para ano, expansão é estimada em 2%.
Rui Chammas, vice-presidente de polímeros da petroquímica Braskem, maior produtora de resinas das Américas, acredita em cenário mais otimista para o segundo semestre, estimulado pelo aquecimento econômico provocado pelas vendas de fim de ano. "Com a realidade mais recente do câmbio [valorização do dólar], podemos esperar uma notícia melhor, com a maior demanda por produtos nacionais."
No segundo trimestre, as vendas de resinas da Braskem ficaram em 366 mil toneladas, em linha com o trimestre anterior, ainda sob efeito da recuperação gradual nas taxas de utilização nas unidades do Nordeste, que foram afetadas pelo apagão.
O volume de importados no mercado doméstico chegou a 31% do total consumido, refletindo a apreciação do real, o crescente mercado de PVC e a entrada oportunista de material com benefícios fiscais via portos incentivados.
No acumulado do ano até julho, a produção de resinas registrou queda de 4%. As vendas recuaram 7,7% no período, de acordo com levantamento da Tendências Consultoria. As paradas para manutenção de petroquímicas, no primeiro semestre do ano, comprometeram a oferta de resinas no país. A consultoria destaca a paralisação das unidades da Braskem em Camaçari (BA), em fevereiro; de Triunfo (RS) e de Mauá (SP), em abril; além da Solvay Indupa, em maio. As estimativas para 2012 são mais otimistas, uma vez que o setor deverá se favorecer pela perspectiva de crescimento de 3,8% para a produção industrial e de 3,7% para o PIB, além da baixa base de comparação deste ano. Em julho, segundo dados da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), a produção e as vendas de resinas recuaram 12,1% e 19,3%, respectivamente, ante igual mês de 2010.
Os preços do polipropileno (PP), uma das principais matérias-prima para a produção de plásticos e embalagens, estavam cotadas, na média, em US$ 2.070 a tonelada, no mercado americano, no segundo trimestre, alta de 14% sobre o primeiro trimestre. A expectativa era de queda para o terceiro trimestre.
"Embora a ponta da cadeia [indústrias de alimentos e bebidas, por exemplo] continue vendendo, a cadeia é longa. A produção [de resinas] está incluída em bens intermediários, mais suscetíveis a preços", observa Carvalho, da Maxiquim.
Segundo José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), a terceira geração do setor petroquímico, a indústria de transformação, tem sido afetada com esse cenário de desaquecimento do setor. "Os custos em alta e os importados inibem o crescimento", afirmou. Essa cadeia representa cerca de 12.500 empresas. "Para cada um empregado na indústria de resina, são cerca de 30 na de transformação", disse. "Estamos perdendo competitividade."