Valor Econômico
A Petrobras está negociando a formação de uma parceria com a espanhola Repsol com o objetivo de compartilhar os investimentos necessários para o desenvolvimento da produção do campo de gás de Mexilhão, na bacia de Santos (SP), o maior do país, com reservas estimadas em 419 bilhões de metros cúbicos de gás natural, a maior descoberta já feita no país. O acordo para formar a parceria foi assinado em janeiro e vinha sendo guardado a sete chaves.
O Valor procurou a direção da Petrobras e da Repsol no Brasil, mas os executivos não quiseram se pronunciar. A possibilidade de uma multinacional no projeto está irritando a área mais nacionalista da estatal brasileira que considera um equívoco entregar agora a um parceiro estrangeiro um campo no qual estima-se que já foram investidos cerca de US$ 300 milhões e sobre o qual a Petrobras detém 100% dos direitos exploratórios.
Segundo avaliação de técnicos da Petrobras, somente com o aluguel de equipamentos de perfuração a estatal já gastou cerca de US$ 285 milhões na área. A previsão de investimentos é estimada entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões, dependendo da tecnologia a ser utilizada, e que segundo a área nacionalista poderiam ser perfeitamente financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou com recursos oriundos da securitização de recebíveis da estatal.
Uma fonte que defende a associação lembra que a Petrobras não tem dinheiro para desenvolver a produção de 4 bilhões de barris de óleo equivalente de gás descobertos nos últimos anos. Está prevista para hoje a realização de um seminário fechado na sede da Petrobras para a apresentação dos dados sobre o campo à Repsol. Só depois os espanhóis vão definir seu percentual de participação.
Nesse seminário seriam apresentados dados considerados estratégicos sobre a geologia dos reservatórios, mas devido às pressões essa parte ficará de fora do seminário, o que foi interpretado pelos nacionalistas como uma pequena vitória. A retirada teria ocorrido após conversas de parlamentares do PT com dirigentes da Petrobras sobre os riscos de abrir a uma empresa concorrente detalhes tecnológicos.
A ordem para que a área de exploração e produção da Petrobras apressasse o início da exploração do campo teria vindo de Brasília. A escolha da Repsol também. Isso porque uma ala do governo teria considerado como manifestação de desinteresse da estatal brasileira o fato desses investimentos não estarem previstos no Plano Estratégico quatro anos após o primeiro furo na área. Apenas em 2003 ela informou ao mercado a descoberta de um campo gigante na área. A formação de parceria para tornar mais ágil o desenvolvimento do campo gigante, objetiva corrigir uma falha política no planejamento anterior, que previa o início da produção de gás em Santos para 2009/2010. Mas até lá o mandato do presidente Lula estará no final, já considerando a hipótese de sua reeleição em 2006. Agora, o objetivo é antecipar para pelo menos 2008.
Além da Repsol outras multinacionais de petróleo teriam se oferecido para fazer parceria em Mexilhão, como a britânica BG e a norueguesa Statoil. Segundo informações obtidas pelo Valor, a opção pelos espanhóis teve dois motivos: primeiro, o fato de as duas empresas já terem parcerias importantes em outros projetos na América Latina, o que permitirá uma "complementaridade" de investimentos. Em segundo, porque as empresas que manifestaram interesse já teriam sinalizado com projetos de exportação de gás natural liquefeito (GNL). Além de exigir investimentos maiores, isso transformaria o Brasil em uma plataforma de exportação de gás, o que não interessa ao governo brasileiro, que ainda desenha um modelo para o setor de gás e planeja expandir a presença desse insumo na matriz energética do país.
O campo de Mexilhão, quando tiver sua produção contratada, irá triplicar as reservas brasileiras de gás natural e será uma opção complementar ao gás boliviano para o abastecimento da região Sudeste. O campo foi encontrado no bloco exploratório BS-400, no qual a Petrobras já perfurou quatro poços para avaliar as dimensões de reservatório. Outros quatro poços foram perfurados no bloco limítrofe (BS-500) para delimitar as descobertas de petróleo e de gás no local.
A Petrobras e a Repsol já são sócias no Brasil, Argentina e Bolívia, onde as duas empresas dividem com a francesa Total a propriedade dos campos de San Alberto e San Antonio. A parceria se fortaleceu em dezembro de 2000, com a conclusão de uma troca de ativos no Brasil e Argentina, no qual a Petrobras adquiriu a rede de postos Eg3 e cedeu, como contrapartida, 30% da Refap, 10% do campo de Albacora Leste e 243 postos da BR.
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