A alta no preço dos combustíveis e a redução no valor do frete marítimo devem piorar o desempenho das empresas de navegação no segundo trimestre de 2011, com manutenção da tendência de queda nas tarifas mesmo em época de forte contratação. A conclusão é da consultoria marítima Alphaliner, com base em informações de alguns dos principais armadores em operação no mundo.
O relatório semanal da consultoria mostra que o cenário atual obrigou as empresas a adiarem para junho os planos de aumento nas tarifas de US$ 200 a US$ 300 por TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) no Extremo Oriente e no Norte da Europa. E que, a despeito de alguma recuperação no mercado à vista, os contratos para o período 2011/2012, em vigor a partir de maio, devem ser fechados com valores abaixo dos negociados no ano passado.
Para o diretor-executivo do Centro Nacional de Navegação (Centronave), Elias Gedeon, é natural que o cenário externo no setor tenha reflexos também na navegação de longo curso no Brasil, operada por grandes armadores internacionais. “O fato é que o setor de navegação ainda não se recuperou totalmente da crise financeira de 2008/2009, quando as quedas nos valores do frete chegaram a ser de 60% no segmento de contêineres, de acordo com consultorias internacionais especializadas, como Drewry e Alphaliner. Naquele período, o volume de embarques chegou a cair 30%”, analisa Gedeon.
O dirigente lembra que a partir de 2010 ocorreu leve recuperação, “ainda não suficiente para retornar aos patamares pré-crise global”, o que contribuiu para estreitar a margem de lucro das empresas de navegação. No último trimestre do ano passado, o valor médio do frete caiu 13% em todo o mundo, segundo a Alphaliner.
Criado há mais de um século no Brasil, o Centronave representa cerca de 30 empresas de navegação marítima que operam no segmento de contêineres e são responsáveis por aproximadamente 75% do comércio exterior brasileiro. Gedeon destaca que essas empresas atuam tanto no Brasil quanto no exterior em ambiente de forte competição, e oferecem os mesmos serviços e linhas de transporte marítimo aos clientes.
“Isso, na verdade, tem reflexos positivos para os usuários dos serviços em termos de redução de custos e qualidade dos serviços oferecidos pelas empresas de navegação. Mas impõe também ao setor um esforço redobrado na busca da produtividade e lucratividade”, argumenta o diretor da instituição. Ele conta que, em razão da concorrência, o valor do frete vive um processo de redução anterior à crise internacional de 2008/2009 e é atualmente 20% mais baixo que na década de 1980.
Elias Gedeon acredita que algumas medidas são necessárias para reduzir o custo da cadeia produtiva e ampliar as exportações no setor. Entre elas investimentos em infraestrutura logística, redução da tributação e da burocracia, segurança jurídica e modernização das leis trabalhistas.