Pilar Neves
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, no dia 11 de março, pandemia global do coronavírus. Incluem-se entre as recomendações de prevenção, a limpeza das mãos e do escritório, incentivo para que colaboradores doentes permaneçam em casa, restrições de viagens, evitar aglomerações e que as funções não-essenciais pratiquem o trabalho remoto.
Além de uma questão de saúde global, a pandemia atingiu o dia a dia das empresas e já tem seus efeitos no mercado de trabalho. Num período de tempo muito curto empresas e colaboradores foram orientados a mudar a rotina, o modo de trabalhar e como se comportar com as pessoas. A sociedade que antes trabalhava e se organizava por meio da lógica da produtividade, hoje se depara com uma grande paralisação. Situações de crise como esta, de muita incerteza e excesso de informações podem desenvolver no indivíduo sintomas de estresse e ansiedade.
Estes sintomas já são monitorados pela Organização Mundial da Saúde mesmo antes do Covid-19. Globalmente, mais de 260 milhões vivem com transtornos de ansiedade e mais de 300 milhões sofrem de depressão. Estimativas da instituição calculam que o custo destes distúrbios para a economia global ultrapassa 1 trilhão de dólares ao ano em perda de produtividade.
No Brasil, segundo a Secretaria da Previdência, os transtornos comportamentais e de saúde mental já são a terceira causa de afastamento de trabalhadores. De acordo com o Boletim sobre Benefícios por Incapacidade, divulgado em 2017 pelo Ministério da Fazenda, foram mais de 9 mil afastamentos do tipo e correspondem a 9% da concessão de auxílio-doença e incapacidade para o trabalho.
A OMS listou alguns dos principais fatores de risco para a saúde mental de colaboradores. Dentre elas estão o modelo de gestão adotado na grande maioria das empresas, onde é preciso demonstrar força e motivação constantemente para atingir metas, alcançar a excelência, ser produtivo e jamais adoecer. Outro ponto abordado é o excesso de trabalho, jornadas inflexíveis e ameaça de desemprego.
Estes dados por si só preocupam tanto o Estado quanto às empresas. Somando o atual cenário de incertezas, as empresas foram convocadas a dar respostas rápidas e precisas aos seus colaboradores e sociedade. Vimos muitas empresas proativas que anunciaram doações e produção de itens essenciais para este momento tão desafiador. Mas e para o coloborador? Como as empresas podem construir uma rede de apoio para assegurar a saúde emocional de seus colaboradores? O departamento de RH, como área responsável pelo bem-estar e pela segurança dos colaboradores, assumiu grande parcela desse desafio. Tiveram que encontrar respostas efetivas para proteger a saúde dos colaboradores e decidir quais iniciativas tirar do papel e medir seus impactos na rotina da empresa.
Ao olhar para o mercado percebemos que muitas ações já estão sendo executadas. Mesmo antes do atual cenário, as empresas já ofereciam algum tipo de suporte aos colaboradores em questões ligadas á saúde mental. Muitas delas já possuiam os Programas de Apoio ao Empregado - PAE. Segundo um levantamento publicado pela Mercer Marsh Benefícios em 2019, 46% das companhias participantes têm alguma iniciativa focada na saúde mental de seus colaboradores.
Com relação ao Covid-19 especialmente, uma empresa no setor de mineração aumentou em 100% o vale alimentação, além do já oferecido PAE. Além disso, estão investindo também em webinars educativos para líderes sobre sobre empatia e acolhimento e estão disponibilizando podcasts para funcionários com crianças em casa.
A Innovation Norway, agência de fomento comercial ligada ao Governo Norueguês, se disponibilizou a custear atendimentos psicológicos de seus colaboradores devido ao afastamento social. Além de possuir reuniões frequentes com os líderes diretos para garantir a saúde mental dos seus funcionários, líderes também estão sendo instruídos a passar para os colaboradores que não há expectativa quanto à produtividade neste período.
Empresas de consultoria e na área de tecnologia estão ampliando a atuação dos programas de apoio aos funcionários já existentes. Apoio psicológico, orientação jurídica (em caso de divórcio, por exemplo), financeira e médica já faziam parte em muitos destes a seguir um regime de trabalho que não eram acostumadas.
Levando em consideração os aspectos mencionados, podemos perceber que o Covid-19 tem trazido desafios para empresas, colaboradores e sociedade. E todos estão se adaptando a esta nova realidade da melhor forma possível. É imprescindível que todos se conscientizem dos aprendizados que esta situação traz consigo pós-pandemia. Especialistas internacionais apontam a antecipação de mudanças que já estavam em curso, como a flexibilização da jornada de trabalho, através do trabalho remoto, educação à distância, a busca por sustentabilidade e a cobrança, por parte da sociedade, para que as empresas sejam mais responsáveis do ponto de vista social. Estudos afirmam que o mundo pós-pandemia certamente será diferente. E muito melhor.
Sobre a autora: Pilar Neves é gerente de projeto da Innovation Norway América do Sul e especialista na área de National Reputation Building, com ênfase no desenvolvimento e gestão de políticas de Igualdade de Gênero e Diversidade para empresas Norueguesas. Atua também como consultora para empresas Norueguesas na área de Aquicultura e Saúde, desenvolvendo negócios na região.
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