Transição Energética

Brasil deve seguir caminho próprio na mobilidade, afirmam especialistas

Redação TN Petróleo/Assessoria
27/06/2024 12:06
Brasil deve seguir caminho próprio na mobilidade, afirmam especialistas Imagem: Divulgação Visualizações: 211 (0) (0) (0) (1)

Não existe um caminho único para a transição energética brasileira, tampouco uma solução acabada, pois o país tem condições de desenvolver as soluções mais adequadas à sua própria economia de modo a atender os três pilares da agenda ESG: ambiental, governança e o responsabilidade social. Esse é o resumo do que foi discutido no webinar Transição energética e combustíveis sustentáveis: o Brasil como modelo, realizado nesta quarta-feira (26/6), pelo Integridade ESG.

O gerente de Planejamento e Controle da Semove (Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro), Guilherme Wilson, apontou alguns desafios da transição energética junto ao modal que reúne 180 empresas de ônibus no estado do Rio de Janeiro, representando uma frota de mais de 16 mil veículos. Sobre a eletromobilidade, ele ressaltou que é preciso cuidado com a aplicação ao transporte público coletivo, na avaliação para o investimento necessário em infraestrutura.

"Isso é muito significativo na parte de infraelétrica, para a gente abastecer uma garagem hoje com 200, 300 ônibus, tem que trazer alta tensão. Então, às vezes, aquela garagem vai consumir mais do que um bairro inteiro da localidade. E essa alta tensão não está disponível", alertou Wilson no evento mediado pela editora do Integridade ESG, Cintia Salomão (foto).

Wilson destacou ainda que, para eletrificar os 100 mil ônibus da frota rodoviária do Brasil hoje, é preciso de 350 bilhões de reais de investimento, calcula. " É um dinheiro que não existe, impossível de ser apresentado. Não há fonte de financiamento para isso", ressaltou o gerente da Semove.

Wilson lembrou, no entanto, que o país tem alternativas com o biocombustível que poderiam resolver.
"Nós precisamos caminhar de mãos dadas com o biocombustível. Essa é a nossa bandeira hoje. Sem deixar de fazer as eletrificações dentro da dose que cabe a cada cidade, a cada região metropolitana, a cada disponibilidade de orçamento de cada município, de cada estado", avaliou.

De acordo com Wilson, é preciso seguir desenvolvendo novos biocombustíveis por meio de matérias-primas que podem ser as mesmas, entre oleaginosas. "Se pegássemos o óleo de soja que temos, produzíssemos HVO (diesel verde), nós, de forma equivalente, nós estaríamos eletrificando 100 mil ônibus do país, equivalentemente, do ponto de vista de descarbonização", afirmou o gerente da Semove.

Márcio D'Agosto, professor da COPPE/UFRJ e presidente do Instituto Brasileiro de Transporte Sustentável (IBTS), enfatizou que o Brasil tem características bem diferentes de outros países do mundo, com muitas alternativas energéticas interessantes, que inclusive podem ser consideradas também para reforçar o pilar social, mas não existe uma solução única. "Enquanto pesquisador e acadêmico, digo que os diferentes segmentos de transporte precisam ser olhados de forma diferente", resumiu.

Para D'Agosto, é possível eletrificar determinado segmento do transporte rodoviário de carga e de passageiros, usar biocombustível em outros segmentos e inclusive, manter o óleo diesel em outras áreas da mobilidade que são mais difíceis de fazer a transição, esticando seu uso por mais um pouco de tempo, com uma tecnologia cada vez mais aprimorada. As opções devem ser exploradas da melhor forma, pois existem recursos e capacidades de financiamento diferenciados, enfatizou o professor.

Ao ser perguntado sobre a utilização do hidrogênio no transporte, D'Agosto respondeu que aina não está definida. A dúvida mais pontual é se o hidrogênio será efetivamente aplicado nos modais do transporte.

"Pode ser melhor utilizado na indústria, nos serviços ou no transporte. Essa é uma decisão que vem antes de escolher em qual modal de transporte vai ser utilizado", comentou, acescentando que trata-se de uma opção de longo prazo no âmbito dos transportes.

Outra questão é essencial para a transição energética, além do combustível: a opção pelo coletivo. "Uma viagem urbana em um carro SUV, em termos de consumo de energia, é equivalente a uma viagem de avião. Nós fazemos diariamente, no transporte individual, viagens urbanas aéreas. São mais de mil quilojoules por passageiro/quilômetro. Se você optasse pelo transporte coletivo, reduziria 10 vezes. Ou seja, um ônibus urbano consome um décimo da energia que consome um automóvel individual que normalmente está com uma pessoa só, significa reduzir 10 vezes a emissão de gás de efeito estufa", explicou D'Agosto.
 

Desmatamento Zero
Ao falar da preocupação ambiental em relação à preservação dos biomas quando se trata do cultivo de óleos vegetais e o aumento da demanda de biodíeseis, Pedro Moré Garcia, coordenador de Sustentabilidade da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), disse que o governo tem tido bastante ação e que o próprio Ibama tem reforçado a fiscalização em relação ao desmatamento, auxiliando a indústria da soja no monitoramento da produção.

Apesar de o desmatamento em geral ter tido aumentos anuais, a participação da soja, principal matéria-prima para fazer o biodiesel, tem diminuído. "As empresas têm compromissos internos, individuais, de controle do desmatamento na cadeia delas. Tem empresa que já anunciou na sua política de sustentabilidade, a maioria, de que a partir do ano que vem, a partir de 2025, vai ser desmatamento zero. Dessa forma, as empresas não vão originar a soja que vem do desmatamento, então o biodiesel que vai ser produzido vai ser com soja sem desmatamento", anunciou.

Garcia salientou que existem vários produtos e várias possibilidades para produzir biocombustível. Em 2023, o Brasil produziu pouco mais de 5 milhões de toneladas de biodiesel. Se o percentual for aumentando, essa produção vai precisar crescer para poder atender à demanda.. E temos mostrado que isso é possível sim", destacou. O especialista evidenciou a importância do setor dos biocobustíveis para o pilar S da agenda ESG por meio do incremento à agricultura familiar:

"A produção do biodiesel tem um papel importante, pois possibilita não só o benefício ambiental pela questão de emissões, mas também no social por conta de toda uma cadeia que é abastecida e que garante empregabilidade não tanto na indústria quanto na agricultura familiar", destacou o representante da Abiove durante o webinar realizado pelo Integridade ESG. 

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