Artigo

A água no holofote, sempre! por Diogo Taranto

Redação TN Petróleo/Assessoria
10/06/2022 10:57
A água no holofote, sempre! por Diogo Taranto Imagem: Divulgação Visualizações: 1352

É consenso global que ela é o bem mais precioso que temos, mas estamos longe de valorizá-la como deveríamos. O mundo acaba de voltar suas atenções ao Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado no dia último dia 5 de junho. Criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1972, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, na Suécia, a data foi concedida com objetivo de chamar a atenção de todas as esferas sociais e governamentais para os problemas ambientais e a importância da preservação dos recursos naturais.

Não há dúvidas que pautas como a oferta mundial de água potável no mundo, a acidez e o aquecimento dos oceanos, o nível de poluição de mares, rios e mananciais são debatidos e estão nos holofotes de pesquisadores e de entidades ambientalistas em todo o planeta. Mas não há metas claras sobre o tamanho da ampliação de ações que promovam o reúso em regiões com elevada escassez hídrica.

Há alguns países onde projetos sérios mostram um rumo promissor a seguir. Nos Estados Unidos, por exemplo, segundo a Bluefield Research, a capacidade de reúso no país deve aumentar 37% até 2027. O maior projeto do mundo de reúso, o GWRS - Groundwater Replenishment System, pode produzir até 379 mil m³ de água de alta qualidade todos os dias. Isso é água suficiente para atender às necessidades de quase 850 mil pessoas!

Por aqui, temos algumas avaliações, mas sem metas evidentes. De acordo com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), em 2018, estimava-se que no país havia uma capacidade instalada de reutilização de água oriunda do efluente sanitário de aproximadamente 2 m³/s (equivalente ao abastecimento de 800 mil habitantes). Mas não vemos campanhas que alertem a população e a iniciativa privada sobre a essencialidade da prática do reúso.

A infraestrutura e a economia de nossas cidades estão sendo castigadas com as graves crises hídricas, que atingiram várias regiões do Brasil nos últimos anos. A tendência é que o quadro se agrave cada vez mais. O desenvolvimento correto e eficiente da reutilização de efluentes sanitários tratados é uma destas ações potenciais, assim como a conservação da água e redução de perdas. Juntamente com novas tecnologias, como a dessalinização da água do mar, ela se encaixa com a necessidade de melhorar a disponibilidade hídrica e traz oportunidades de sinergia para fortalecer os setores hídricos e de saneamento no Brasil.

A prática do reúso de água deveria ser parte de nossa cultura. Mas os investimentos em grandes projetos de reutilização ainda são exceção e permanecem à margem dos vultosos números, ao comparamos às centenas de bilhões estimados para o atingimento da meta de universalização do saneamento básico no Brasil até 2030. O grande desafio, portanto, é avançar com a integração da reutilização no portfólio nacional de abastecimento de água e no estímulo às indústrias, centros comerciais e em condomínios. Este é próprio ao saneamento básico, que muitos não veem como tal, mas é fundamental para a saúde da população.

Há uma transformação positiva com as cifras estimadas em torno de R$ 700 bilhões em investimentos na próxima década, com o Novo Marco Legal do Saneamento no Brasil. Embora se refira aos serviços de tratamento de água e efluentes no setor público, ele impulsiona os investimentos também no privado, com reflexos positivos para economia, meio ambiente e sociedade.

Aqui temos uma meta definida: que até 2033, 99% da população terá acesso a água potável e 90% a tratamento e coleta de esgoto. Ter no radar esses percentuais já é uma conquista. Agora teremos, como sociedade, a missão de cobrar, ao longo dos anos, o avanço desses investimentos.

É preciso encarar com seriedade o assunto, principalmente, quando se trata do descarte de efluentes que, infelizmente, ainda é feito em grande escala de maneira irregular e com pouca divulgação de dados para que se possa agir de maneira efetiva contra essa prática.

O cenário de emissões de efluentes no País é turvo. Não temos um atlas completo, no âmbito privado, sobre o quanto empresas, indústrias, condomínios e centros comerciais descartam todos os dias, de forma irregular, milhões de litros dos mais diversos tipos de líquidos que causam impacto extremamente nocivo a rios, lagos, ao solo e aos lençóis freáticos. Também não há um estudo claro que demonstre as regiões mais críticas e nem quando essa prática será banida.

Em quase todos os países do mundo, há metas para reduzir o desmatamento ilegal e a emissão de dióxido de carbono a zero. A Alemanha, por exemplo, anunciou que pretende atingir ‘net zero emissions’ em 2045. A sociedade pressiona pela urgência na transformação da matriz energética global, e a pressão precisa ser cada vez mais forte. Mas e a gestão da água em meio a uma crise climática que pode causar danos sem precedentes ao planeta? Pouco se fala; insuficientes são as manchetes nos jornais! 

O simbolismo do dia 5 de junho é importante e serve como alerta para pressionarmos os governantes a fazerem muito mais. A gestão correta dos recursos hídricos precisa dividir o holofote  com outros graves problemas que temos que enfrentar, como a alta emissão de CO2 e a desflorestação. O reúso e o correto descarte de efluentes tratados precisam ser uma bandeira global e fazer parte da agenda de todos as nações. Afinal, se estamos em uma luta pela vida na Terra, preservar a água é a essência desse imenso desafio que temos pela frente.

Sobre o autor: Diogo Taranto é Diretor de Desenvolvimento de Negócios no Grupo Opersan, especializado em soluções ambientais para o tratamento de águas e efluentes. O executivo é engenheiro, formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, com MBA em Gestão Empresarial, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), além de ter formação em Gestão e Tecnologias Ambientais, pela Universidade de São Paulo (USP).

Mais Lidas De Hoje
veja Também
Transição Energética
Edital da EDP vai destinar até R$ 500 mil a projetos de ...
07/10/25
Sustentabilidade
Amazon Brasil e Petrobras anunciam iniciativa de colabor...
02/10/25
Etanol
Ampliar o consumo doméstico de etanol: desafio essencial...
01/10/25
Combustíveis
Etanol aumenta mais de 1% em setembro, afirma Edenred Ti...
01/10/25
ESG
Pesquisa Firjan ESG 2025 revela amadurecimento das empre...
30/09/25
Sustentabilidade
Conheça as ganhadoras do Prêmio Firjan de Sustentabilida...
29/09/25
Tecnologia e Inovação
Aplicativos sustentáveis ganham espaço e impulsionam prá...
26/09/25
GNV
Naturgy debate oportunidades para crescimento no mercado...
25/09/25
Combustíveis
Etanol tem maior alta de preço desde maio, aponta levant...
24/09/25
Pernambuco
Neoenergia PE renova contrato com R$ 6,1 bilhões em inve...
24/09/25
Cultura
Ano Cultural Brasil/Reino Unido abre oficialmente com cl...
23/09/25
Mercado
Empresas invisíveis: a ascensão dos negócios digitais 10...
20/09/25
Energia Eólica
Parceria inovadora entre Petrobras, WEG e Statkraft colo...
18/09/25
Hidrogênio Verde
Complexo do Pecém (CE) abriga os primeiros projetos de h...
18/09/25
São Paulo
FIEE 2025 cresce 20% em público e registra maior edição ...
17/09/25
Governança Corporativa
5 medidas para integrar a natureza à estratégia de negócios
16/09/25
Mobilidade Sustentável
Naturgy aborda o papel do GNV na mobilidade sustentável ...
15/09/25
Comunicação
Transpetro lança guia inédito de Saúde Marítima
15/09/25
Energias Renováveis
Pela primeira vez, energia solar e eólica geram mais de ...
12/09/25
Rio Pipeline & Logistics 2025
Novo duto com 2 mil km para atender ao agronegócio do Ce...
11/09/25
MME
Estudo projeta expansão da produção de biocombustíveis c...
09/09/25
VEJA MAIS
Newsletter TN

Fale Conosco

Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você concorda com a nossa política de privacidade, termos de uso e cookies.