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Presidente do CNPq pede a preservação dos recursos para formação de jovens cientistas

Redação/Assessoria
20/07/2017 14:43
Presidente do CNPq pede a preservação dos recursos para formação de jovens cientistas Imagem: Cortesia Unicamp Visualizações: 955 (0) (0) (0) (0)

"Bolsa de iniciação científica não se corta", disse Mario Neto ao anunciar o retorno do Prêmio Jovem Cientista em 2018. Na 69ª Reunião da SPBC, ele ressaltou que o CNPq tem conseguido "navegar" em meio às restrições orçamentárias.

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) prepara para 2018 a 29ª edição do Prêmio Jovem Cientista (PJC), entregue pela última vez em 2015. A informação é do presidente do CNPq, Mario Neto Borges, que participou de debate com vencedores de concursos de iniciação científica, nesta quarta-feira (19), no pavilhão do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) na 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Belo Horizonte (MG).

Criado em 1981, o prêmio é uma iniciativa do CNPq, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, para revelar talentos, impulsionar a pesquisa no Brasil e investir em jovens estudantes que procuram inovar na solução de desafios da sociedade. "Esse prêmio é fundamental e sua abrangência alcança o país inteiro", destacou Mario Neto. "A 29ª edição está assegurada para o ano que vem, e os patrocinadores já estão comprometidos."

Mario Neto relatou que esteve recentemente com o vencedor da primeira edição do PJC, Henrique Malvar, hoje cientista-chefe do grupo de pesquisa em inteligência artificial da empresa Microsoft. "Ele me disse que deve toda a sua vida ao CNPq, por ter sido bolsista de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado", contou.

O então jovem cientista, agraciado em 1981, havia desenvolvido um projeto em telecomunicações.

Por vídeo, gravado em Seattle, nos Estados Unidos, Malvar incentivou os estudantes a ingressar na carreira científica. "Eu trago boas notícias. Vocês estão entrando no mundo de pesquisa e inovação num momento fantástico da história. Estamos às portas da 4ª Revolução Industrial, uma nova era que promete fazer com que a informação digital entre em todas as áreas do conhecimento. A Microsoft investe mais de US$ 12 bilhões por ano. Temos um time de mais de 5 mil cientistas trabalhando em inteligência artificial", afirmou. "Fazer pesquisa no Brasil não é fácil. Vocês verão gente brilhante desistindo. Meu conselho a vocês é: não desistam. Os cientistas serão heróis da Indústria 4.0."

O presidente do CNPq recordou o caso de uma bolsista de iniciação científica que conheceu em Janaúba (MG), quando era presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). "Eu estava lá para a aula inaugural de um curso da Universidade Estadual de Montes Claros e puxei conversa com essa menina, que lavava vidros no laboratório. Perguntei se gostava de fazer iniciação científica. Ela olhou para mim, com seus 16 anos, e disse: foi o melhor emprego da minha vida! Até hoje eu arrepio ao lembrar. E fico pensando: essa menina do norte de Minas recebia bolsa de R$ 100,00 e aquilo para ela era o melhor emprego do mundo, porque a tirou do trabalho escravo ou talvez da prostituição. Caramba, R$ 100,00 por mês fazem uma diferença brutal. Foi uma história emocionante, que mostra que o talento está em qualquer lugar. É isso que faz a diferença: criatividade, iniciativa, interesse, curiosidade."

Mario Neto ressaltou que o CNPq tem conseguido "navegar" em meio à dificuldade orçamentária do governo federal e defendeu a preservação dos investimentos para a formação de jovens cientistas. "Temos mantido os nossos programas. A primeira coisa que recuperamos foi a cota de bolsas, que tinha sido reduzida em 20%", apontou. "Você pode cortar até o salário do presidente do CNPq, mas bolsa de iniciação científica não se corta!"

Jovens na ciência

O coordenador de Ciências e Meio Ambiente Urbano da Fundação Roberto Marinho, André Luiz Pinto, apresentou uma análise da trajetória dos vencedores do Prêmio Jovem Cientista. "Tivemos 21 mil projetos inscritos em 36 anos de história do prêmio", assinalou. "Dois em cada três projetos agraciados deram origem a produto, serviço, técnica ou patente. Esse é um número significativo para a realidade brasileira. E os dados mais bonitos: 90% dos alunos consideram que o prêmio mudou a vida deles; o mesmo percentual considera que suas pesquisas contribuíram realmente para a ciência e, de alguma forma, a sociedade e a comunidade onde vivem."

Já o presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Mariano Laplane, expôs o documento "A formação de novos quadros para CT&I", que avaliou resultados de 2001 a 2013 do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), criado no final dos anos 1980 como um canal de descentralização da seleção e do acompanhamento dos projetos para as instituições de ensino superior e pesquisa, por meio das quais as bolsas passaram a ser concedidas. CNPq e CGEE lançaram o estudo em abril.

"O Pibic é um programa bom para os bolsistas, que são os beneficiários diretos; bom para o ensino superior, porque aumenta a eficiência, reduz o tempo de titulação e estimula vocações para a pós-graduação; e bom para a sociedade, porque diminui as desigualdades regionais e de gênero e aumenta a empregabilidade e a remuneração dos bolsistas", observou Laplane.

Vencedor do 14º Prêmio Destaque na Iniciação Científica e Tecnológica, entregue na terça-feira (18), o estudante de Farmácia Ícaro Sarquis, da Universidade Federal do Amapá (Ufap), descreveu seu interesse pela biodiversidade local. "É com isso que eu quero trabalhar, porque a minha região é muito rica em produtos naturais, vegetais, frutas. A minha mãe era botânica, e a vida inteira eu convivi com diversas pessoas de fora, vindas de todo lugar do mundo para conhecer as plantas do meu estado", explicou o aluno do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Pibiti), premiado por projetar um produto nanoestruturado para combater as larvas do mosquito Aedes aegypti a partir do óleo da semente de sucupira.

O próprio Ícaro disse ter sido vítima da dengue, doença transmitida pelo vetor enfrentado pela pesquisa, três vezes durante sua vida, em Macapá (AP). "Esse prêmio do CNPq foi um grande empurrão na minha carreira, uma grande vitória", comentou, emocionado. "Eu quero fazer mestrado e doutorado, sim, para ser professor e um dia devolver tudo aquilo que o Brasil investiu em mim."

A engenheira ambiental Uende Gomes, vencedora do 25º PJC, em 2011, hoje é professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental. Com o tema Cidades Sustentáveis, o projeto premiado tratava de intervenção de saneamento básico em áreas de vilas e favelas. "O PJC foi um divisor de águas na minha vida", definiu. "Depois, concluí meu mestrado e fiz meu doutorado. Sou muito grata a todas as instituições de pesquisa e ensino, desde a iniciação científica. Eu nasci em uma comunidade rural de Itabira (MG). Quem me viu na infância jamais imaginaria que eu estaria aqui hoje. E o que abriu essa oportunidade de vida para mim foram a educação e a ciência."

Agraciada com o 26º PJC, de 2012, com tema Inovação Tecnológica nos Esportes, a designer Priscila Loschi desenvolveu um tecido inteligente apto a proporcionar conforto térmico a atletas, benefício estendido depois a pacientes acamados em hospitais e pessoas com mobilidade reduzida. O projeto priorizou matérias-primas sustentáveis, brasileiras e de baixo custo. "A vida inteira eu estudei em escola pública, desde o maternal até a universidade, e me orgulho muito disso", recordou. "Quando a gente trabalha tecnologias para o bem-estar das pessoas, consegue sair do nosso patamar de pesquisador para o patamar de cidadão. Isso nos diferencia. Continuem na luta, porque existe muita gente boa, e as universidades estão de portas abertas."

O presidente da Fapemig, Evaldo Vilela, enfatizou o papel dos programas de iniciação na atração de estudantes para a área. "O maior valor é o jovem perceber que, por meio da ciência, ele pode descobrir a verdade dos fenômenos naturais, ao entender que nenhuma certeza é absoluta. Esse é um fator fundamental para o desenvolvimento da sociedade. A China só é o que é hoje porque houve um momento em que o país observou que o Oriente não seguia método científico. A meta, então, é capacitar pessoas para o entendimento da vida e dos fenômenos naturais", defendeu.

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