Energia solar passou a ser vista como uma alternativa.
Valor Online
"Leilão é como uma caixa de bombons... Você nunca sabe o que vai encontrar", diz o executivo, citando uma fala do personagem interpretado por Tom Hanks, no filme "Forrest Gump".
Neumann esteve no Brasil no último mês para conversar com investidores interessados no leilão de reserva e fabricantes de painéis que pretendem se instalar no Brasil.
De acordo com Mário Lima, diretor executivo da firma de consultoria EY, ex-Ernst & Young, o preço estipulado para solar foi até mesmo superior às expectativas do mercado, que projetava algo entre R$ 250 e R$ 260 por MWh, o que demonstra o firme interesse do governo federal em desenvolver projetos no país.
Em sua avaliação, isso mostra que os formuladores da política energética brasileira mudaram de opinião em relação à energia solar após a crise enfrentada com a geração hídrica, em razão da seca que castiga a região Sudeste há mais de dois anos.
Por permitir uma implementação mais rápida, a energia solar passou a ser vista como uma alternativa.
O preço de R$ 262 por MWh inclui riscos, como a curva de aprendizagem para a construção das usinas, já que não há ainda um histórico sobre o desempenho da energia solar no país, afirma Lima.
Tão pouco as estatísticas que existem são muito confiáveis, avalia. "O preço [da energia solar] tende a cair pela metade daqui cinco ou quatro anos", diz o consultor.
De acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), há 400 projetos de energia solar fotovoltaica inscritos para o leilão, totalizando um potencial de 10.790 megawatts (MW) de capacidade instalada.
O montante equivale a quase 10% do parque gerador brasileiro hoje.
Uma das empresas que cadastrou projetos no leilão, a CPFL Renováveis está realizando análises a partir do preço divulgado pela Aneel para decidir se participará ou não da concorrência. "Estamos fazendo as contas e comparando com as propostas que Têm vindo para o fornecimento, a construção e montagem", afirmou o diretor-presidente da empresa, André Dorf.
Para o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, Nivalde de Castro, o leilão de energia de reserva com contratação de uma parcela de energia exclusiva da fonte solar vai abrir espaço para a tecnologia. Segundo ele, o leilão cria demanda e garante contratos indexados de longo prazo.
"O modelo de contratação via leilões é muito atraente, somado com o fato de que o Brasil tem um potencial de energia solar muito grande e com fator de capacidade alto", disse o especialista.
Sobre o financiamento dos projetos, o consultor da EY afirma que ainda dúvidas se o BNDES vai oferecer empréstimos.
Como os estrangeiros têm acesso a linhas de crédito lá fora bem mais baratas, com custos de 3% a 4% ao ano, esses recursos podem ser aportados no Brasil, diz Lima.
Nesse sentido, a desvalorização do real ajuda, ao diminuir os orçamentos em moeda estrangeira.
O risco cambial dos financiamentos poderia ser reduzido com instrumentos de hedge, avalia Lima.
Mas a alta do dólar encarece a importação de equipamentos, que são fabricados em grande parte no exterior, em especial na China.
A tendência, prevê o consultor da EY, é que os investidores estrangeiros busquem sociedades com empreendedores brasileiros, que conhecem o país. "Investir no Brasil é muito difícil. O sistema é travado", diz Lima.
Segundo ele, existem muitos obstáculos para o investimento, como a burocracia e a imprevisibilidade regulatória, além das questões fundiárias.
No caso das usinas solares, os empreendedores precisam arrendar grandes áreas.
Lima prevê que existem grandes chances de que os empreendedores instalem usinas solares em parques eólicos existentes, para aproveitar a complementariedade e reduzir custos operacionais.
Para o executivo de uma grande fabricante internacional de painéis fotovoltaicos, o preço-teto definido permitirá a contratação de fonte fotovoltaica no leilão de reserva.
Ele, no entanto, não forneceu uma estimativa de quanto deverá ser contratado na licitação.
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