<P>Um espectro ronda o Porto de Santos. Depois de quase uma década sem registrar ataques de piratas a embarcações e de deixar a impiedosa ''lista negra'' de organizações internacionais, que na década de 80 chegaram a classificar o complexo como um dos mais inseguros do mundo, o cais santista v...
A Tribuna - SPUm espectro ronda o Porto de Santos. Depois de quase uma década sem registrar ataques de piratas a embarcações e de deixar a impiedosa ''lista negra'' de organizações internacionais, que na década de 80 chegaram a classificar o complexo como um dos mais inseguros do mundo, o cais santista volta a ser alvo de assaltos.
Dados do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado de São Paulo (Sindamar) apontam que somente entre agosto e outubro últimos houve 12 invasões a embarcações na Barra de Santos (a entrada do porto). Os navios são os seguintes: MSC Manaus, MSC México, MCS Mediterraneo, CMA CGM L'etoile, CMA CGM Triumph, Guassu, Maersk Val Paraiso, Monte Sarniento, Leblon, Cap San Nicolas, Cap Bisti e Aliança Mauá. Todos de contêineres.
A Polícia Federal (PF) registra outro número no mesmo período. Segundo o delegado-chefe da Delegacia de Polícia Federal (DPF) em Santos, Ariovaldo Peixoto dos Anjos, ''foram entre quatro e cinco'' ataques no período. A diferença pode ser explicada porque, para a PF, furto de carga não é ataque pirata. Tal denominação, segundo Anjos, só se aplica quando há, além do furto, violência física.
Nomenclaturas à parte, Sindamar e PF concordam: sejam 12 ou cinco, o volume dos recentes ataques a navios é alarmante. ''Foge muito à normalidade que vinha se apresentando no porto'', ponderou Anjos.
Desde a instalação do Núcleo de Polícia Marítima (Nepom, braço da PF voltado à segurança no mar, recém-batizado de Departamento de Polícia Marítima, Depom), em 1998, as ações desse tipo caíram a zero. Por isso, a avaliação diante dos últimos episódios soou, para dizer o mínimo, o sinal de alerta do setor marítimo.''Esses ataques sinalizam um recrudescimento da onda de furtos a bordo. Gostaria de ressaltar que desde a instalação do Nepom, a Polícia Federal tem sido muito diligente, tanto que essas ações desapareceram. Aquela época em que o Porto de Santos foi taxado como um porto de lista negra não existe mais'', avaliou o vice-presidente do Sindamar, José Roque.
De acordo com o agente de navegação, essa situação (desde a última ocorrência, no começo de outubro, com o Aliança Mauá, o Sindamar não registrou mais ataques) é pontual. Mas poderia ser coibida com mais eficácia caso houvesse mais patrulhamento da PF na Barra, o que só não ocorre por falta de efetivo, adiantou Roque.''O que nós sentimos é que o efetivo da PF é incompatível com um porto que tem 13 quilômetros de cais'', avaliou, destacando que o Depom está aparelhado adequadamente. ''Não que a PF não esteja agindo. Está. Armamento eles têm. Estão equipados com veículos, lanchas. Mas não existe o principal: pessoal para fazer o trabalho'', avaliou Roque.
REUNIÃO - Devido aos recentes assaltos a embarcações no porto, o Centro Nacional de Navegação Transatlântica (Centronave), sediado no Rio de Janeiro, fez uma reunião no mês passado com a Delegacia de Polícia Federal, em Santos. Na ocasião, explicou o diretor-executivo da entidade empresarial, Robert Higgin, foi manifestado à PF o temor de que o Porto de Santos fosse, novamente, classificado como um complexo perigoso para a navegação mercante.''A intenção (da reunião) foi realmente evitar que o porto seja incluído naquela listagem que é feita por órgãos internacionais. Recentemente, a IMO divulgou um relatório em que cita um dos assaltos no porto'', explicou Higgin.
Antes da entrada em operação do Nepom, Santos ostentava índices alarmantes de assaltos armados a navios. ''Naquela época, os ataques, que hoje ocorrem somente na Barra, chegavam a acontecer com o navio já atracado'', lembrou Roque, do Sindamar.
Como consequência, houve aumento das taxas de seguro marítimo, aumentando o frete das viagens realizadas na costa nacional, inflacionando o chamado ''custo Brasil'' e desgastando a imagem do País em geral - e do porto santista em particular - no exterior.PreocupaçãoMas hoje, além do problema meramente comercial, há um agravante que tem deixado as autoridades do setor ainda mais preocupadas: o ISPS Code, lei internacional contra ataques terroristas.
O raciocínio é que se os piratas conseguem entrar em uma embarcação para assaltá-la, a mesma facilidade, a princípio, teria um terrorista se quisesse, por exemplo, colocar uma bomba no navio. ''Isso expõe a insegurança não só do navio na Barra, mas também no porto'', avaliou Roque.''Todos os navios cumprem as normas. O porto tem de oferecer segurança, patrulhamento. Nós estamos lidando com armadores estrangeiros e eles vão se reportar a respeito disso. Daí a razão porque estou dizendo que o próprio Governo Federal deveria olhar para Santos'', explicou o vice do Sindamar.
Fonte: A Tribuna - SP
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