Redação/Assessoria Fapesp
A startup Fruturos, alocada na EsalqTec – incubadora de empresas de base tecnológica da Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) –, está desenvolvendo, por meio de um projeto apoiado pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), um aroma natural de chocolate, obtido da semente de jaca dura (Artocarpus heterophyllus Lam.) fermentada e torrada em pó.
O plano original da empresa era comercializar o produto como ingrediente para aplicação por indústrias alimentícias, de aromas e cosméticos. Ao participar do 14º Treinamento PIPE em Empreendedorismo de Alta Tecnologia (PIPE Empreendedor), cujo evento de encerramento aconteceu no dia 12 de maio, as fundadoras da empresa identificaram um nicho de mercado até então fora do radar de negócios: o de cervejas artesanais.
“Ao longo das entrevistas com potenciais usuários do ingrediente percebemos que nossa proposta tinha muito valor para cervejarias artesanais. Com base nessa constatação, mudamos nossa estratégia de negócios para dar mais foco nesse segmento de mercado”, diz Carla de Freitas Munhoz, pesquisadora responsável e fundadora da empresa.
Promover essa guinada no plano original de negócios das startups – pivotar, no jargão do empreendedorismo – é justamente um dos objetivos da capacitação, oferecida desde 2016 pelo PIPE-FAPESP e que já treinou 294 empresas iniciantes de base tecnológica.
O PIPE Empreendedor tem como público-alvo empresas que se encontram na Fase 1 do PIPE – de análise da viabilidade da pesquisa para inovação. O treinamento permite que as participantes avaliem o seu modelo de negócio para seguir em frente, desistir ou redefinir a proposta original, aumentando assim as chances de serem aprovadas na Fase 2 do PIPE – de execução da pesquisa – e de, posteriormente, oferecerem um produto inovador ao mercado. Em alguns casos, poderão também participar do treinamento projetos Fase 2 Direta que estejam nos meses iniciais de sua execução.
Durante as oito semanas do treinamento, os empreendedores devem ir a campo para entrevistar o maior número possível de potenciais clientes para conhecer, de fato, não só quem são os usuários da sua solução, mas também os influenciadores, tomadores de decisão, pagadores e os eventuais sabotadores.
Mais de 50% das startups participantes dessa edição do PIPE-Empreendedor são agtechs, como são chamadas as empresas de tecnologia aplicada ao agronegócio.
“Após o treinamento há uma transformação significativa na maneira de pensar dos fundadores das startups participantes. Eles mudam a maneira de olhar o negócio a partir do resultado das entrevistas”, afirma Flávio Grynszpan, membro da Coordenação da Área de Pesquisa para Inovação da FAPESP e um dos coordenadores do programa.
A afirmação é corroborada por Vânia Santos Braz, pesquisadora da BioSmart Nanotechnology.
A empresa, situada em Araraquara, está desenvolvendo com apoio do PIPE um composto antivirulência para atuar no combate à salmonelose em animais de criação, como frangos e suínos.
“As entrevistas ajudaram a ampliar nossa visão sobre o potencial de mercado do produto que estamos desenvolvendo”, diz Braz.
Treinamento on-line
A pesquisadora pretendia realizar entrevistas com responsáveis por granjas de aves e suínos. O surgimento da COVID-19, contudo, promoveu uma mudança nos planos não só das startups participantes, mas na forma de realização do próprio treinamento, que teve de ser totalmente on-line.
“Foi um desafio oferecer o treinamento totalmente on-line para as empresas participantes que também tiveram que realizar as entrevistas de forma não presencial. Mas elas atingiram a meta do número de entrevistas em um momento tão complicado”, diz Hélio Graciosa, membro da Coordenação da Área de Pesquisa para Inovação da FAPESP e um dos coordenadores do programa.
Na avaliação de Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP, se por um lado o momento atual com a pandemia da COVID-19 é muito desafiador, por outro espera-se que a ciência e tecnologia indiquem soluções para não só superar a crise, como desenhar um novo modelo de funcionamento da economia e da própria sociedade.
“Nesse sentido, a interação com o setor não acadêmico é fundamental para a transformação do conhecimento em riqueza, de modo a transferi-lo para a sociedade”, avalia.
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