Pré-Sal
O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse que os quatro projetos de lei enviados pelo governo federal envolvendo as reservas do pré-sal podem ser aprovados pelo Congresso Nacional ao fim do primeiro trimestre de 2010. O executivo participou ontem, em São Pau
Jornal do CommercioO presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse que os quatro projetos de lei enviados pelo governo federal envolvendo as reservas do pré-sal podem ser aprovados pelo Congresso Nacional ao fim do primeiro trimestre de 2010. O executivo participou ontem, em São Paulo, do seminário O Futuro do Pré-sal II.
Além de Gabrielli, participaram do painel O novo modelo de exploração o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), João Carlos de Luca, e o senador Tasso Jereissati (PSDB). Paulo Hartung (PMDB), governador do Espírito Santo, e o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) participaram do painel Como distribuir a riqueza do petróleo.
Segundo Gabrielli, os projetos de lei devem ser votados na Câmara dos Deputados no dia 10 de novembro – o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse recentemente que há um acordo entre as lideranças da Câmara para que a votação ocorra, de fato, nessa data. “Com a aprovação, o Senado teria entre 45 e 60 dias para votar os projetos. Com isso, o processo pode ser concluído ao final do primeiro trimestre de 2010″, afirmou.
O governo federal encaminhou quatro projetos sobre os seguintes temas, envolvendo as reservas de petróleo do pré-sal: alteração do regime de exploração de concessão para partilha de produção, criação da Petro-sal, capitalização da Petrobras e criação do Fundo Social, que usará recursos do petróleo para financiar investimentos nas áreas sociais.
OPERADORA ÚNICA. O presidente do IBP, João Carlos de Luca, criticou a criação de um operador único dos campos do pré-sal, o que para ele pode resultar em um “conflito de constitucionalidade”. O executivo, que trabalhou na Petrobras por mais de 20 anos, também destacou que a participação obrigatória da estatal em todos os blocos na região pode onerar as operações da companhia.
“Não achamos que o modelo seja bom nem para a Petrobras, porque há um sentido de onerosidade, por haver a obrigatoriedade de a empresa operar blocos menos rentáveis”, afirmou.
De Luca diz acreditar que a prioridade da estatal deverá ser dada aos grandes blocos da região, nos campos de Tupi, Carioca e Guará, mas o modelo também obrigará a estatal a operar blocos com menor potencial. Para ele, isso “engessaria” a atuação da empresa. Ao mesmo tempo, o modelo de uma operadora única limitaria a atividade da iniciativa privada. “O operador único limita demais o desenvolvimento da indústria do petróleo”, afirmou.
Ele ressaltou ainda que é preciso “desonerar” a Petrobras. Para isso, defendeu uma maior participação da iniciativa privada. “Queremos preservar o espaço para a iniciativa privada também ter uma participação complementar (na exploração do pré-sal) de 15% a 20%, como hoje”, disse, referindo-se ao atual modelo de concessão adotado no Brasil.
O presidente do IBP também criticou o que chamou de “poder excessivo” da Petro-Sal na decisão sobre a exploração do pré-sal. O projeto que prevê a criação da nova estatal, explicou o executivo, concede à Petro-Sal uma participação mínima de metade dos assentos nos comitês dos consórcios que vão coordenar a exploração. “Corremos o risco de ter o trabalho de explorar os poços, construir as plataformas e, na hora H, não podermos tomar decisão nenhuma”, destacou.
Gabrielli disse que a decisão do governo federal de garantir à estatal o direito de ser a única operadora dos projetos do pré-sal é positiva para a empresa, diferentemente do que argumenta do IBP de que o fato pode ser um futuro ônus à Petrobras. “Avaliamos que há inúmeras vantagens em ser a única operadora do pré-sal. Não há nada negativo nisso”, disse o executivo.
Segundo Gabrielli, o fato de ser operadora única traz vantagens na otimização da infraestrutura de produção e dos recursos financeiros para os projetos, além de garantir a aplicação de uma política de conteúdo nacional que beneficie o País. Nem a tese defendida pelo IBP de que a condição de operadora única implicará na necessidade de a Petrobras investir em projetos de com baixa atratividade é vista como um problema pelo executivo.
“Se fossem só os campos de pequeno potencial, tudo bem. Mas a Petrobras tem centenas de áreas produtoras e em exploração. Então, estamos trabalhando com um grande conjunto, não colocando todos os ovos na mesma cesta e minimizando o risco do portfólio como um todo”, disse.
Hartung critica centralização dos recursos do pré-sal
O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), afirma que a proposta do governo para o pré-sal vai centralizar excessivamente a arrecadação de recursos com a produção de petróleo. “O que a União propõe não é dividir royalties com estados não produtores, é uma baita centralização dos recursos.”
Defensor da manutenção do rateio atual, Hartung diz que o benefício a estados e municípios produtores está previsto na Constituição, como compensação aos danos causados pela indústria do petróleo. “As cidades próximas à produção na costa do Espírito Santo já sofrem impactos sociais, como a necessidade de investimentos em infraestrutura”, argumenta.
Na opinião de Hartung, mesmo que haja exemplos de mau uso dos recursos dos royalties, a administração descentralizada, por estados e municípios, é mais eficiente. “O investimento público representa apenas 2% do PIB e a maior parte disso é feita por estados e municípios”, destacou. “Porque investem mais? Porque têm menos compromisso com custeio e gastos correntes”.
O governo do Espírito Santo dedica 30% de sua arrecadação com royalties a 68 municípios que não são beneficiados pelo dinheiro do petróleo. Os recursos podem ser gastos em educação infantil, aterros sanitários e saneamento básico. “Não é cortesia com chapéu alheio”, disse, em referência a propostas para redistribuir a arrecadação entre todos os estados. Espírito Santo, Rio e São Paulo serão os Estados mais prejudicados em caso de mudanças nos royalties.
O governo cogitou eliminar a cobrança dos novos campos do pré-sal, mas cedeu após pressão dos governadores, deixando a decisão para o Congresso. Mesmo que o governo tenha recuado, porém, a abertura do debate sobre os royalties foi suficiente para a união de lideranças política em defesa de mudanças.
Um dos maiores defensores da proposta, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, diz que a manutenção do rateio atual favorece a “concentração de riqueza que segue a história do País”. A arrecadação de royalties e participações especiais cobradas sobre campos de grande produtividade soma R$ 10,2 bilhões até agosto de 2008.
Deste total, o Estado do Rio, principal produtor nacional de petróleo, ficou com R$ 3,1 bilhões. Já os municípios fluminenses, por sua vez, arrecadaram R$ 1,51 bilhão. A União, por sua vez, teve direito a R$ 3,9 bilhões. O restante é dividido entre os demais estados produtores, sendo que o Espírito Santo ocupa a segunda colocação entre as maiores arrecadações.
Fale Conosco