Aumento nas usimas deveficar 8% mais altos.
Valor Econômico
Os preços médios do etanol no mercado doméstico brasileiro deverão ser maiores nesta safra 2014/15 mesmo com a queda projetada das exportações. O presidente de uma das maiores tradings de etanol do país, a SCA Trading, Martinho Seiiti Ono, projeta que os valores médios recebidos pelas usinas devem ser 8% mais altos neste ciclo, na comparação com o passado. Isso significa, no caso do etanol hidratado, que é usado diretamente no tanque dos veículos, um preço médio de R$ 1,31 por litro, ante a média de R$ 1,21 registrada no ciclo 2013/14 pelo indicador semanal Cepea/Esalq. Se a tese se confirmar, será o segunda temporada consecutiva de maiores preços médios. De 2012/13 para 2013/14, já houve uma valorização de 8,7% nos valores médios recebidos pela usina.
Em evento realizado pela sucroalcooleira Guarani, em São Paulo, o executivo da SCA Trading afirmou que o cenário se justifica por uma oferta restrita de etanol, enquanto o consumo de combustíveis cresce no país. A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) projeta para 2014/15 uma produção de 25,8 bilhões de litros do biocombustível (somando-se anidro e hidratado), apenas 1,2% maior do que na temporada passada.
Por outro lado, o consumo cresce a taxas bem maiores. Em 2013, a demanda por hidratado no Brasil aumentou 9,8% em relação a 2012, para 10,8 bilhões de litros, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP). No primeiro trimestre deste ano, já está 18,9% maior, em 2,9 bilhões. O consumo de gasolina C, que tem em sua composição 25% de etanol anidro, também segue avançando. Em 2013, aumentou 4,2%, a 41,3 bilhões de litros. Nos primeiros três meses de 2014, a alta acumulada é de 9,4%, a 10,6 bilhões.
Por conta desse mercado interno aquecido, a queda nas exportações não tende a trazer grandes impactos ao mercado interno, como um excesso de oferta, diz Ono. A projeção da SCA Trading é de que o país vá embarcar em 2014/15 em torno de 1,7 bilhão de litros de etanol, 34% de retração em relação aos 2,6 bilhões de litros embarcados na temporada 2013/14, encerrada em 31 de março deste ano.
A principal razão para a queda está na redução do mandato americano para biocombustíveis avançados, em fase de aprovação pela Agência de Proteção Ambiental americana (EPA, na sigla em inglês). O órgão dos Estados Unidos está prestes a aprovar uma proposta de reduzir em 41% do volume inicialmente previsto para 2014.
"Três quartos das exportações brasileiras de etanol seguem ao mercado americano. Por isso, a definição do EPA traz impacto direto aos volumes embarcados pelo Brasil", afirmou Ono.
Neste momento, segundo o executivo da SCA Trading, os preços internos do etanol (anidro), estão na casa dos R$ 1,45 por litro (anidro), portanto, remunerando mais do que na exportação. "Para exportar, a usina receberia hoje, em reais, cerca de R$ 1,20 por litro", compara o executivo.
No primeiro trimestre deste ano, o Brasil exportou a todos os destinos 336 milhões de litros de etanol, 47% abaixo do embarcado em igual trimestre de 2013. Em receita, foram US$ 215 milhões, 48,5% menor. Em abril, no entanto, diante de uma demanda pontual dos Estados Unidos em função de problemas logísticos, o Brasil exportou mais etanol. Foram embarcados no mês passado 137,4 milhões de litros, 34,3% de crescimento em relação a um ano antes. Em receita, o crescimento foi de 33,5%, a US$ 96 milhões, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/MDIC).
No mercado interno, o início da safra vem depreciando os preços do biocombustível. Em 15 dias, a queda foi próxima de 19%, conforme o indicador Esalq/BM&FBovespa. Mais do que uma oferta abundante típica de início de moagem, explica o diretor técnico da Unica, Antônio de Pádua Rodrigues, a desvalorização dos preços é muito mais reflexo da necessidade das usinas de fazer caixa para arcar com compromissos. "O setor está muito endividado", disse.
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