Redação TN Petróleo/Assessoria EY
Há cinco dias, a Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP27) teve início na cidade de Sharm El Sheikh, no Egito. A estreia da cúpula do clima com tamanha dimensão no continente africano ganhou os holofotes da mídia, foi destaque em manchetes de grandes jornais e movimentou a economia do país inteiro para receber os 33.449 participantes de 190 nações. Entre as muitas expectativas para o resultado das negociações climáticas desta conferência, uma das coisas que cativou a atenção internacional é a representação institucional tripla do Brasil no evento e a delegação que já soma mais de 500 participantes brasileiros. Situados em diferentes lugares do evento, três pavilhões apresentam o nosso país: o estande oficial do Governo Federal, o Brazil Climate Action HUB e o inédito espaço Consórcio Amazônia Legal.
Embora as representações possam parecer fragmentadas e as agendas sejam independentes, há um objetivo comum entre as três iniciativas: avançar no futuro climático do Brasil, retomando-o como protagonista nesta agenda.
O estande oficial do Governo Federal tem 500 metros quadrados e conta a delegação liderada pelo atual Ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, e a programação do espaço está visivelmente pautada na temática da matriz energética brasileira, que é 83% de fontes renováveis.
Enquanto isso, o Brazil Climate Action HUB é considerado literalmente "a casa da sociedade civil brasileira". Idealizado pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), em 2019, o espaço é destinado às Organizações Não-Governamentais (ONGs), universidades e centros de pesquisa, governos subnacionais e o setor privado, propondo-se a ser um espaço de diálogo plural, propositivo e efetivo. Nesta COP, os eixos temáticos da agenda são:, Financiamento e Implementação, Descarbonização, Adaptação, Perdas e danos e Impactos nos territórios, Justiça Climática, Florestas, Energia, e Soluções.
Por fim, pela primeira vez na COP, o espaço Consórcio Amazônia Legal é uma iniciativa dos governos dos nove estados que abrigam a região. Dedicado exclusivamente às pautas do bioma amazônico, a agenda é direcionada às políticas ambientais e de desenvolvimento sustentável da floresta por meio de múltiplas iniciativas de bioeconomia.
Se a implementação representa a palavra-chave da COP27, podemos dizer que os três espaços trazem oportunidades para todos os setores, com objetivo de fortalecer o alcance das metas climáticas brasileiras. O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostra que, para manter o aquecimento global em 1,5°C, precisamos reduzir emissões em 45% até 2030 comparado à 2019 ou as consequências serão sem precendentes para governos, negócios e comunidade. O que significa que, tanto em dimensão local, nacional ou global, estamos em uma corrida para cumprir os objetivos climáticos, mantendo o desenvolvimento ao mesmo tempo que protegendo a biodiversidade e todo ecossistema.
Outra novidade da COP no Egito é a grande presença de C-level de empresas, isso porque a questão climática já está posicionada como tão relevante como qualquer outra questão corporativa. Também é a primeira vez que o tema ‘perdas e danos’ entra na pauta da COP. A tempestividade de novas regulamentações e dos riscos associados à mudança do clima levaram ao engajamento de governos e do setor privado em uma presença conjunta na conferência.
Outra questão-chave da principal conferência internacional sobre mudanças climáticas é a transição energética, setor que tem grande emissões globais e está sofrendo estresses no cenário internacional recente. O Brasil tem grandes oportunidades, principalmente porque já temos 83% de nossos fontes de energia consideradas limpa. Além disso, abrigamos a Amazônia e biomas essenciais para o controle do clima que possuem grande potencial de gerar dinheiro com a preservação e manejos, bem como aplicando Soluções Baseadas na Natureza (SbN).
Segundo Ricardo Assumpção, sócio-líder de Sustantabilidade e ESG da EY, as emissões brasileiras são originadas majoritariamente do desmatamento e do uso da terra. Se por lado temos que endereçar de forma consistente as ações climáticas, reduzir nossas emissões custa muito menos e leva menos tempo, se comparado a países que possuem emissões a partir de combustível fóssil. Isso pode se tornar uma enorme vantagem comparativa já no curto prazo.
Em vista da transição para o novo governo no Brasil, a expectativa dos três espaços de representação na COP27 é avançar efetivamente no futuro da política ambiental brasileira em todos os setores. Ontem, dia 10, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, participou de um debate no Brazil HUB sobre o papel do poder judiciário na proteção dos direitos no contexto da crise climática. Ele ressaltou ainda que muitos estados brasileiros ainda não estão cumprindo as metas brasileiras do Acordo de Paris , o que dificulta o progresso do nosso país na redução dos gases de efeito estufa (GEE).
Para os próximos dias há a confirmação de que o presidente eleito Luiz Inácio da Silva Lula comparecerá à conferência na segunda semana. Apesar das tensões do momento político do Brasil, podemos afirmar que a COP27 representa um divisor de águas para a governança ambiental e climática em nosso país. As perspectivas internacionais, nacionais e locais apontam para a retomada de instrumentos de cooperação internacional e a liderança do Brasil para um futuro verde e sustentável com responsabilidade, transparência e justiça social.
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