Redação / Assessoria
O debate sobre a privatização dos canais de acesso aos portos vem levantando muitas questões, além do aspecto técnico da medida. A Secretaria de Portos (SEP) avalia a concessão como uma estratégia para normalizar os serviços de manutenção dessas vias marítimas. Já a Federação Nacional dos Portuários é contrária à medida, que deverá acarretar em perda de receita pelas Companhias Docas. Outra preocupação é com o aumento dos custos portuários, decorrentes não só do aprofundamento do canal de acesso como de sua manutenção.
Para a Technomar Engenharia, o aprofundamento dos canais de acesso aos portos brasileiros é fundamental para aumentar a competitividade das exportações brasileiras e eliminar um dos principais gargalos logísticos do Brasil. A medida permitirá a atracação de navios graneleiros de grande porte e porta-contêineres de alta capacidade, reduzindo o valor dos fretes e aumentando a produtividade.
A empresa, incubada na USP, criou um grupo de trabalho para avaliar os impactos da proposta e envia sugestões hoje (8/5), quando termina a Consulta Pública. Os sócios da Technomar lembram que hoje as palavras de ordem são eficiência e segurança. Eficiência nas operações, otimizando a mobilidade, as rotas e o aproveitamento integral dos espaços, e a garantia de segurança, em especial visando a proteção do meio ambiente.
Segundo Felipe Rateiro, um dos sócios da empresa, existe tecnologia disponível para auxiliar o entendimento e a tomada de decisão do investimento privado nos canais de acesso dos portos, como os simuladores em tempo real. Um exemplo, entre outros, é o Simulador Marítimo Hidroviário (SMH) desenvolvido em uma parceria entre a USP e a Transpetro, que é capaz de reproduzir manobras de embarcações em situações de estresse e/ou crise, como tempestades, baixa visibilidade, dificuldade de manobra, falha nos equipamentos, blackout etc.
No simulador é possível realizar a modelagem de portos com suas possíveis configurações de canal. Assim, com o uso desta ferramenta computacional integrada com a correta utilização de normas e recomendações técnicas, como por exemplo, a PIANC ou a ABNT (que passa atualmente por revisão) é possível uma otimização do volume dragado. Isso pode ser realizado através de uma profunda análise das variáveis de projeto horizontal e vertical, assim como melhoria no seu alinhamento.
Esta otimização é fundamental, no sentido que canais de acesso com maior profundidade e largura impactam tanto as obras de dragagem em si, mas também sua manutenção, influenciando a frequência de retirada de novos volumes.
Com as novas definições da geometria dos canais de acesso são necessários modelos físicos e matemáticos para estimar os volumes e frequência de dragagem para manutenção desta nova situação.
Uma das consequências do aprofundamento e da ampliação da largura de canais de acesso pode ser a desestabilização das fundações de estruturas de cais em decorrência da escavação dos taludes. O impacto destas alterações torna necessária a avaliação geotécnica do cais e píeres afetados, como apresentado pelo professor de Engenharia Costeira e Portuária da USP, Paolo Alfredini, em seu livro Engenharia Portuária.
Em resumo, as modernas ferramentas de análise e dimensionamento de engenharia auxiliarão a discussão dos eventuais conflitos relativos a riscos ambientais, riscos de projeto e gargalos operacionais em terminais portuários.
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