A Petrobras Biocombustível (PBio) planeja produzir neste ano em torno de 1 bilhão de litros de etanol, ante os 800 milhões de litros do ciclo passado. O volume, apesar de maior, é motivo de frustração, já que a empresa e suas sócias, que operam nove usinas no Centro-Sul do país, investiram em canaviais para produzir 1,2 bilhão de litros.
O clima, que pelo terceiro ano consecutivo castiga os canaviais da região - que responde por 90% da produção brasileira de cana - também afetou, com falta de chuvas no primeiro trimestre deste ano, as áreas das sócias da PBio: a Guarani (Tereos Internacional), com sete usinas em São Paulo, a Nova Fronteira, com uma unidade em Goiás, fruto de uma joint venture com o grupo São Martinho, e a usina mineira Total.
A seca ofuscou os investimentos feitos no ciclo 2011/12 para renovar e ampliar 71 mil hectares de canaviais. Antes da estiagem, que ocorreu em fevereiro e março deste ano, as usinas sócias da PBio esperavam moer na safra 2012/13 cerca de 25 milhões de toneladas de cana, 25% mais do que os 20 milhões de toneladas do ciclo passado. Mas neste momento, a expectativa da estatal, que faturou R$ 1,8 bilhão em 2011, é que o processamento se limite a 22 milhões de toneladas de cana, caso não haja novas intempéries. A produção de açúcar da PBio deve crescer 7% para 1,5 milhão de toneladas, basicamente vinda da Guarani.
Os aportes agrícolas feitos no ciclo 2011/12 integram um plano maior da estatal e de suas sócias de, até 2015, aplicar R$ 1,080 bilhão para renovar e expandir 254 mil hectares de cana. Outros 90 mil hectares serão renovados e expandidos em 2012/13, afirma o presidente da PBio, Miguel Rossetto.
Sem mencionar números detalhados de cada empresa parceira, Rossetto afirma que a maior perda de produtividade, tanto na safra passada, como nesta, ocorreu nas usinas do Estado de São Paulo. "Há frustração grande, especialmente em função da estiagem de fevereiro e de março em toda a região. Temos custos fixos, investimentos feitos. E teremos a repetição de uma safra ruim", lamenta.
Apesar da pouca ajuda do clima, Rossetto garante que as metas estão de pé. Está mantido o plano de atingir, com as atuais sócias e com os investimentos já feitos (cerca de R$ 2 bilhões), processamento de 32 milhões de toneladas de cana e produção de 2 bilhões de litros de etanol até 2015. "Houve retrabalho e prejuízo, sim. Muita cana teve que ser replantada. Mas vamos conseguir cumprir essa meta com as sócias", garante.
Mas fora das atuais parceiras, a PBio tem um alvo a perseguir: produzir mais 3,6 bilhões de litros para atingir 5,6 bilhões de litros de etanol até 2015. Como já anunciado, construção de usinas novas e aquisições de outras participações acionárias em usinas estão no radar. Mas há pelo menos um ano a PBio não anuncia um novo negócio nessa área.
Para cumprir a empreitada, a estatal tem na manga US$ 1,9 bilhão para alavancar investimentos de outro sócio que compartilhe de 50% do negócio. Mas Rossetto pondera que é preciso que os projetos novos de etanol e eletricidade voltem a dar viabilidade. "Estamos no escuro", diz o ex-ministro. O binômio tem que sobreviver sem a muleta do açúcar. "Produzir os dois itens, ficar de pé e ainda investir em expansão demanda um grande esforço de equilíbrio", diz o executivo.
Sem mencionar nomes, Rossetto afirmou que está avaliando neste momento comprar ativos no Centro-Sul e que pode anunciar até o fim do ano a construção de uma unidade nova. "Fazemos contas todos os dias. Mas, por enquanto, as condições de retorno econômico estão no limite", diz.
Apesar de a necessidade de mais investimentos em expansão no setor encontrar-se na agenda do governo, é evidente que é preciso haver uma velocidade na liberação dos financiamentos, defende o executivo. "Renovação de canavial tem que ser prioridade, uma vez que cana nova é cana com mais ATR (açúcar contido na cana). É preciso padrão de monitoramento desses financiamentos", disse Rossetto, em clara referência à linha de financiamento de canaviais criada pelo governo e que promete liberar R$ 4 bilhões para renovação e expansão de áreas de cana.
Ele pondera que o setor canavieiro também precisa fazer sua parte: "É urgente sair da inércia da produtividade agrícola e industrial que emperra a redução de custos nos setor", afirma.