Folha de Pernambuco, 26/04/2018
Em busca de sobrevivência, a indústria naval pernambucana dará mais uma prova de que, com apoio político e financeiro, tem condições de produzir embarcações de qualidade. O Estaleiro Vard Promar vai entregar, nos próximos dias, o navio de maior valor agregado já produzido no Brasil. É o Skandi Recife, um navio com tecnologia de ponta que vai auxiliar a Petrobras a se conectar aos novos poços de petróleo do País e, segundo o Ministério dos Transportes, está orçado em R$ 1 bilhão.
É um PLSV, navio complexo que faz o lançamento das linhas flexíveis que conectam os poços às linhas de produção de petróleo. Por isso, tem muita tecnologia agregada e alta precisão", explicou o vice-presidente sênior do Estaleiro Vard Promar, Guilherme Coelho. Apesar do porte médio (140 metros de comprimento x 28 metros de largura), esta embarcação também tem uma torre com capacidade para 340 toneladas que faz o lançamento dessas linhas e um sistema de funcionamento dinâmico que a deixa parada no mar mesmo com a incidência de correntes e ventos.
O Skandi Recife também é o primeiro navio deste tipo a ser produzido no Vard Promar - os três primeiros eram gaseiros. Por isso, o estaleiro demorou quatro anos para concluir o projeto e vai promover um evento de agradecimento ao empenho dos seus 1,1 mil funcionários na próxima sexta-feira. No mesmo dia, o navio deve ser entregue à empresa Dofcon, que vai conceder o navio à Petrobras por oito anos.
Mais dois navios serão entregues pelo Vard - outro PLSV e um gaseiro encomendado pela Transpetro - neste ano. Depois, não há mais encomendas para o empreendimento pernambucano. Por isso, o estaleiro corre o risco de fechar as portas no fim deste ano. Para evitar isso, o Vard Promar reforçou os pedidos de socorro apresentados esta semana pelo Estaleiro Atlântico Sul (EAS) ao Ministério dos Transportes.
O Vard acredita que a exigência de conteúdo local nos navios operados no Brasil é fundamental para a sobrevivência do setor, mas também pede que o Fundo de Marinha Mercante (FMM) passe a ser utilizado pela Marinha. Afinal, ao contrário do EAS, que produz embarcações de grande porte para o transporte de petróleo, o Vard faz projetos menores de apoio à exploração ou de uso militar. E, atualmente, o FMM não financia a construção de navios militares.
“A Marinha precisa modernizar sua frota, mas sofre restrições orçamentárias. Enquanto isso, o FMM recebe de R$ 3 a R$ 5 bilhões por ano, mas isso não tem sido utilizado em função da crise econômica. Acreditamos que parte desse valor poderia ajudar na renovação da frota da Marinha”, argumentou Coelho, dizendo que o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) já apresentou uma proposta que prevê a destinação de 10% do FMM para a Casa Civil. “Está em análise na Casa Civil. Nossa esperança, é que seja aprovada pelo Congresso neste ano”, disse.
Outra esperança do Vard Promar é a licitação da Marinha que prevê a construção de quatro corvetas. Este processo, no entanto, só deve ser finalizado em outubro e ainda prevê um longo detalhamento de projeto. Por isso, o vencedor do edital só deve começar a construir os navios de guerra no fim de 2019.
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