Meio Ambiente

Pesquisa aponta soluções para reduzir emissões de CO2 e consumo de combustível no transporte marítimo

Resultado do estudo foi publicado em uma prestigiada revista científica internacional.

Redação TN Petróleo/Assessoria
04/05/2022 14:59
Pesquisa aponta soluções para reduzir emissões de CO2  e consumo de combustível no transporte marítimo Imagem: Divulgação Visualizações: 2485 (0) (0) (0) (0)

Os navios são hoje a oitava maior fonte de emissão de CO2 no mundo e a meta da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) é reduzir até 2050 essas emissões em pelo menos 50% em relação a 2008. De olho nessa questão, um pesquisador da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) buscou alternativas para melhorar a eficiência energética de embarcações da indústria de petróleo e gás. Uma delas conseguiu uma redução de cerca de 10% tanto de COcomo de combustível. O estudo acaba de ser publicado na prestigiada Energies, revista científica internacional voltada à área de energia elétrica.  

"O esquema proposto considera a adaptação do navio. Os geradores principais, originais da embarcação, são mantidos, mas, além disso, lançamos mão de fontes complementares de energia: geradores auxiliares, baterias e célula a combustível", explica o engenheiro eletricista paulista Giovani Giulio Tristão Thibes Vieira, primeiro autor do artigo. "O principal objetivo do trabalho foi analisar qual é a configuração ideal do sistema de energia de um navio, levando em conta o uso de três tipos de baterias e células a combustível com tanques de hidrogênio de diferentes tamanhos. Em busca dessas respostas, avaliamos todas as possibilidades de combinação entre elas".  

Melhor combinação – O melhor resultado apresentado foi a combinação que reúne geradores principais e auxiliares, bem como uma bateria de lítio, óxido, níquel, manganês e cobalto com capacidade de 3.119 quilowatts-hora (kWh), além de uma unidade de célula a combustível do tipo membrana de troca de prótons (PEMFC) e tanque com capacidade de armazenar 581 quilos de hidrogênio. Como se sabe, na célula a combustível o hidrogênio reage com o oxigênio que vem do ambiente. A energia liberada transforma-se em corrente elétrica que alimenta a embarcação e o processo gera como resíduo apenas calor e água pura. "Essa combinação proporcionou o resultado mais significativo que obtivemos na pesquisa: ela reduziu as emissões de COem 10,69%", comemora Vieira. "Além disso, a diminuição das emissões também representa uma redução da mesma ordem no consumo de combustível". 

O artigo é resultado do doutorado que Vieira realiza desde 2018 na Poli-USP. Por sua vez, o doutorado é desdobramento de seu mestrado (Análise de alimentação híbrida para propulsão de navios usando sistemas de armazenamento de energia), defendido pelo pesquisador naquele ano, na mesma instituição. O estudo foi realizado no âmbito do projeto Sistema de Energia Híbrida para Navios, que esteve em curso entre 2016 e 2020 na primeira fase dos programas do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), financiado pela Shell do Brasil e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). 

"A passagem pelo RCGI foi essencial para fundamentar minha pesquisa. Meu mestrado tratou da parte elétrica do navio. No doutorado, migrei para a parte energética. Agora, os integrantes do grupo formado no RCGI prosseguem seus estudos na área, mas de forma independente do centro de pesquisa", afirma Vieira. 

O estudo foi realizado por meio do software Homer e foi focado na análise da performance de um navio de abastecimento de plataforma (ou PSV, sigla em inglês para Platform Supply Vessel). Trata-se de um tipo de embarcação utilizada como apoio às plataformas offshore de petróleo e gás. No caso, essas embarcações costumam transportar mercadorias e equipamentos para alto-mar. "Na pesquisa estabelecemos o seguinte trajeto: o navio sai do porto carregado e segue rumo à plataforma. Lá descarrega a carga em uma operação chamada DP e retorna ao porto mais leve. Assim, conseguimos analisar as diferentes demandas de energia ao longo da operação", relata.  

A curva de tempo que o navio precisa para cumprir esse trajeto foi baseada nos dados de uma outra dissertação de mestrado (Uma metodologia para selecionar o sistema de propulsão elétrico para navios de apoio a plataformas), realizada por Cristian Andrés Morales Vásquez, também na Poli-USP. "Fizemos essa curva baseada no número de horas por tempo de operação em que o navio permanece em cada etapa da missão", prossegue o pesquisador. 

Tema em voga – Formas de reduzir emissões de COpor embarcações é um tema em voga no mundo, como ressalta o pesquisador, que atualmente cumpre temporada de estudo na Universidade Aalborg, na Dinamarca. O convite veio graças a um artigo que escreveu em 2019 para o projeto Sistema de Energia Híbrida para Navios, do RCGI, coordenado pelo professor Bruno Souza Carmo, da Poli-USP.  

"O interesse por essa temática vem crescendo em nível mundial desde o final dos anos 2000. Em 2008 o IMO tomou a decisão de reduzir o limite global de emissões de óxido de enxofre, resultado da queima de combustível, por parte da frota mercante mundial. Mais tarde, a normativa IMO 2020 estabeleceu que o limite de enxofre no combustível dos navios caísse de 3,5% para 0,5%. Em zonas designadas de controle de emissões, como mar Báltico e Estados Unidos, o limite já é de 0,1%", conta Vieira. 

Uma solução de curto prazo para que os navios se adaptem às baixas emissões de COé lançar mão do retrofit. De acordo com o pesquisador, já existem empresas no mundo que produzem um tipo de container que abriga packs de bateria com seu sistema de gerenciamento e proteção, bem como conversores.  "Além disso, esse container tem sua temperatura interna controlada. É uma solução pronta para ser instalada nos navios", constata Vieira. Ainda segundo o estudioso, pesquisas apontam que 50% dos navios em atividade hoje no mundo vão continuar operando até 2030. "Nós, pesquisadores, precisamos pensar em soluções de curto prazo para que essas embarcações se adaptem a uma nova realidade e reduzam as emissões de CO2. Esse estudo ilumina algumas possibilidades", diz Vieira. 

O pesquisador estima que o uso de baterias pode ser uma solução a curto prazo, pois a célula a combustível, por ser relativamente nova, é uma tecnologia pouco acessível do ponto de vista econômico. Por isso, além da questão da emissão, o estudo também se deteve na duração da bateria. "As baterias ajudam a reduzir as emissões em dois momentos. Elas descarregam quando a demanda é baixa e substituem os geradores principais na hora em que eles iriam operar num ponto de menor eficiência. Depois, essas baterias são carregadas para funcionar como carga e elevam o fator de carga do gerador, o que, geralmente, leva a um melhor ponto de eficiência", explica Vieira. Entretanto, o processo de carregar e descarregar provoca desgaste na bateria. "Uma bateria com mais ciclos de carga e descarga tem uma vida útil menor, e isso apresenta um impacto financeiro que precisa ser avaliado", finaliza.

Mais Lidas De Hoje
veja Também
Rio de Janeiro
Fórum Brasil de Energia reúne cadeia de fornecedores de ...
04/02/25
Gás Natural
Com 5,4 milhões de m³/d, consumo de gás natural no Amazo...
04/02/25
Gás Natural
Infraestrutura está diretamente ligada ao crescimento do...
04/02/25
Diesel
Preço médio do diesel comum tem alta de 0,48% em janeiro...
03/02/25
Santa Catarina
Até 2030 serão investidos R$ 873 milhões na expansão do ...
03/02/25
Resultado
Com 4,322 milhões de boe/d, produção de petróleo e gás e...
03/02/25
Firjan
Lançamento do Perspectivas do Gás 2024-2025 destaca a im...
03/02/25
GNL
Perfin Infra anuncia investimento na VirtuGNL, e aposta ...
03/02/25
Petrobras
A partir de amanhã o diesel passa custar R$ 3,72 por lit...
31/01/25
Apoio Marítimo
Efen, Wilson Sons, Porto do Açu e Vast serão pioneiras n...
31/01/25
Gás Natural
Algás e Arsal discutem demandas do gás natural em Alagoas
31/01/25
Gás Natural
Tarifas de gás natural terão redução em fevereiro
30/01/25
Energia Solar
Schulz S.A. firma parceria com Elera Renováveis na modal...
30/01/25
Petrobras
Reservas Provadas em 2024 ficam em 11,4 bilhões de barri...
30/01/25
IBP
UnIBP e IBP promovem a primeira edição do "Elas movem a ...
30/01/25
Bioplástico
Pesquisadores brasileiros encontram bactéria capaz de tr...
30/01/25
Gasmig
Copam aprova, por unanimidade, licenciamento ambiental d...
30/01/25
Oportunidade
Programa de Desenvolvimento Offshore (PDO) da Foresea di...
30/01/25
Firjan
Rio de Janeiro representa 74% da produção de gás natural...
30/01/25
Etanol de milho
Em 2024, o Brasil produziu 7,7 bilhões de litros de etan...
29/01/25
Energia Eólica
Grupo CCR e Neoenergia anunciam a conclusão do contrato ...
29/01/25
VEJA MAIS
Newsletter TN

Fale Conosco

Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você concorda com a nossa política de privacidade, termos de uso e cookies.