O grupo italiano Mossi & Ghisolfi (M&G) está em negociações com a Petrobras para a compra de PTA (ácido tereftálico purificado), o principal insumo para a produção de resina PET. A M&G e a estatal vão se tornar concorrentes a partir de 2013, quando petrolífera nacional deverá colocar em operação a Companhia Petroquímica de Pernambuco, a Petroquímica Suape.
Ao 'Valor', Marco Ghisolfi, CEO da divisão da unidade de negócios PET do grupo M&G, afirmou que a companhia já está em conversações com a estatal para comprar PTA. Atualmente, a M&G é a única produtora de resina PET no país. A multinacional importa o PTA, sobretudo do México, para viabilizar a produção em Pernambuco. A companhia italiana é a maior produtora global de resina PET.
Com o início das operações da Petroquímica Suape, a M&G vai enterrar de vez suas intenções de ter uma planta de PTA no país. Segundo Ghisolfi, o investimento em uma unidade produtora de PTA no Brasil deixa de fazer sentido. Quando a M&G decidiu produzir PET no Brasil, o projeto original contemplava também a produção dessa matéria-prima.
Ghisolfi afirmou que a empresa poderá comprar da Petrobras pelo menos metade de suas necessidades, mas evitou falar em volumes. O avanço dessa negociação também vai depender da própria Petrobras, que previa dar início às suas operações no segundo semestre deste ano, mas adiou para o início de 2013. A fábrica da companhia italiana tem capacidade para 550 mil toneladas de PET e a da Petrobras, quando estiver em operação, está projetada para 450 mil toneladas ao ano. Até 2011, o grupo italiano se beneficiava da importação do produto com tarifa zero, o que gerou discórdia com a Petrobras. A estatal não retornou ao pedido de entrevista sobre o assunto.
No ano passado, foram importadas 442,5 mil toneladas de PTA, com gastos de US$ 589 milhões, de acordo com levantamento da consultoria petroquímica Maxiquim. "Se a M&G comprar PTA da Petrobras, será uma forma de reduzir o déficit da balança comercial da indústria química", afirmou Otávio Carvalho, diretor da consultoria. Em 2010, os gastos com importação de PTA totalizaram US$ 446,9 milhões, com 502,3 mil toneladas do insumo importada.
No passado, o Brasil chegou a ser pequeno produtor de PTA. A Rhodia tinha uma unidade de PET em Poços de Caldas (MG), que foi adquirida (e desativada) pela M&G em 2002. Essa unidade, quando estava nas mãos da Rhodia, era abastecida de PTA fabricado pela Rhodiaco (Rhodia e Amoco) em Paulínia (SP), cuja capacidade era de 250 mil toneladas ao ano.
A produção de PTA da Petrobras terá capacidade para 700 mil toneladas ao ano. A estatal destinará cerca de 400 mil toneladas para a produção de PET, quando estiver operando a plena carga, e outras 200 mil toneladas para os fios de poliéster. O complexo industrial da Petrobras está consumindo investimentos de US$ 2,5 bilhões. A expectativa é de que a estatal exporte resina PET nos primeiros anos de operação, uma vez que a companhia italiana atende praticamente toda demanda nacional.
A previsão da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet) é de que a capacidade de produção dessa resina alcance 1 milhão de toneladas em 2014, considerando os dois complexos industriais em operação (M&G e Petrobras).