A troca de mercadorias do Brasil com os demais países através de portos apresentou sinais de melhora no segundo trimestre do ano, na comparação com o período de abril a junho de 2012. O crescimento de 3,8% nesse comércio foi o primeiro desde o primeiro trimestre do ano passado. Mesmo assim, o aumento no fluxo de mercadorias ainda está longe do ideal, segundo o diretor comercial da armadora Maersk Line Brasil, Mario Veraldo. Burocracia e problemas de infraestrutura forçam para baixo as projeções de movimentação no setor, que devem variar entre 4% e 5% neste ano, afirma o executivo.
O crescimento do comércio exterior brasileiro não se deve a uma questão cambial - no período, pelo contrário, houve uma valorização do dólar frente ao real, o que reduz o valor (em dólar) das cargas importadas ou exportadas. Esse aumento nas trocas reflete o maior número de operações de importação e exportação no país. De acordo com a Maersk Line Brasil, braço nacional da armadora Maersk Line, líder mundial no transporte marítimo de contêineres, as “cargas secas” (em contêineres) foram as mais movimentadas.
Os embarques de papel, madeira, café e soja refletem a vocação brasileira para esses produtos e a exportação de commodities. A demanda asiática por esses artigos e a recuperação econômica dos Estados Unidos são fatores que impulsionam as trocas comerciais. Com isso, as exportações nacionais de carga seca cresceram 2,7% no segundo trimestre,após uma queda de 2,6% no primeiro trimestre.
Entre as importações, a alta foi de 5,9% entre abril e junho últimos. O melhor desempenho, em relação ao primeiro trimestre, que registrou um aumento de 3,4%, é creditado ao crescimento da produção industrial. Ela superou a desvalorização do real, tendo em vista o maior volume importado para os setores automotivo, de transporte, químico e de alimentos e bebidas.
“Apesar da alta das importações, pela primeira vez de um bom tempo para cá, houve queda de 21% na importação de produtos manufaturados. Esse fator é preocupante porque está diretamente ligado ao consumo interno brasileiro”, afirmou Mario Veraldo.
Projeções
Para este ano, é esperado um crescimento, que pode variar entre 4% e 5%, nas importações e exportações através dos portos. Ele será impulsionado, principalmente, pela recuperação americana, pela desaceleração econômica chinesa e pelos sinais de melhora da economia europeia.
As estimativas apontam para um cenário melhor do que o vivido no ano passado, quando as trocas comerciais tiveram alta de apenas 2%. Mas, para o diretor comercial da Maersk Line Brasil, as perspectivas para o comércio exterior brasileiro são muito baixas e estão longe do ideal.
“Não é o crescimento que gostaríamos de ver. O baixo desempenho do comércio exterior se deve à infraestrutura inadequada, à burocracia e aos acessos aos portos”, destacou Veraldo.
Segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), no Porto de Santos, o tempo médio de espera de um navio, entre sua chegada à região e o início de suas operações no cais, que era de 18,5 horas no segundo trimestre, saltou para 38,9 horas em julho. Com isso, é necessário que os cargueiros precisem acelerar o ritmo de sua navegação ao deixar o complexo, de modo a compensar as horas perdidas. O resultado é a queima de uma maior quantidade de combustíveis e, consequentemente, maiores custos e danos ao meio ambiente, além de atraso nos serviços.
Para o diretor comercial da Maersk Line, é preciso iniciar debates entre a sociedade civil, o Governo e as entidades que representam as empresas do setor, para que elas tracem metas para o crescimento brasileiro. “O Brasil está na 70ª posição do índice de competitividade global de infraestrutura, atrás de Trinidad e Tobago e das Ilhas Maurício. Isso não é bom para um país que tem 200 milhões de habitantes, uma cadeira produtiva e de logística instalada que nós temos aqui”, argumentou Mario Veraldo.
Para o executivo marítimo, antes de o Governo se preocupar com a construção de portos e estradas, ele deveria focar sua atenção na eliminação da burocracia e na obtenção de uma maior agilidade de processos portuários, ações que não requerem grandes investimentos e podem melhorar em muito a situação do comércio exterior brasileiro.