Jornal do Commercio
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu ontem (16) as críticas que vinculam a elevação do preço dos alimentos à prioridade dada para a produção agrícola voltada para a produção do biocombustível. "Essa questão de confronto entre biocombustíveis e alimento eu não aceito", afirmou. Ao ser questionado sobre avaliação de "entendidos", sobre as conseqüências do biocombustível no preço dos alimentos, o presidente reagiu: "Entendidos em termos. Muitas vezes palpiteiros. São palpiteiros. É muito fácil alguém ficar sentado num banco na Suíça dando palpites no Brasil e na África. É importante vir aqui e meter o pé no barro para saber como a gente vive, a quantidade de terras que temos e o potencial de produção que temos."
A produção de biocombustíveis vem recebendo, nos últimos dias, críticas do Banco Mundial (Bird), da Organização das Nações Unidas (ONU) e de autoridades européias. O relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, chegou a classificar a produção de biocombustível como um "crime contra a humanidade".
Lula disse que a questão principal é "que existe hoje um milhão (sic) de seres humanos que não comem as calorias necessárias e não têm biodiesel". Segundo o presidente, os países ricos contribuiriam de forma extraordinária se tirassem o subsídio da agricultura. "Eu jamais iria aceitar qualquer tipo de política que fizesse a gente comer nafta e fazer combustível de soja", rebateu.
Na avaliação de Lula, o preço dos alimentos tem aumentado porque o "mundo não estava preparado para ver milhões de pessoas comerem três vezes por dia". E recomendou: "O que tem que fazer é, em vez de ficar chorando, produzir mais alimentos. Nesse aspecto o Brasil pode oferecer muita coisa - tem 400 milhões de hectares preparados para agricultura e outros 60 milhões de hectares de pastos degradados que podem ser recuperados". O presidente disse que está disposto a debater a questão de alimentos no mundo inteiro. "Queremos que se discuta com racionalidade, mas não a partir da lógica da Europa."
Lula deu tais declarações ao sair do Itamaraty onde participou de almoço oferecido pelo governo brasileiro à presidente da Índia, Pratibha Patil.
O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, revelou ontem que pediu a realização de um amplo estudo sobre o impacto dos biocombustíveis, que têm sua utilização defendida pela União Européia (UE) mas cujo balanço ecológico está sendo questionado.
"Pedi pessoalmente que seja feito um estudo de todos os aspectos da utilização dos biocombustíveis, como seu impacto na agricultura e nos preços (dos produtos alimentares), assim como no desenvolvimento", explicou Barroso depois de um encontro com o primeiro-ministro belga, Yves Leterme.
Diante da imprensa, o presidente da Comissão Européia lembrou que os dirigentes europeus se comprometeram "por unanimidade" a cumprir as metas da UE em matéria de redução de emissão de gases de efeito estufa, uma das quais é a utilização de 10% dos biocombustíveis para os transportes.
Barroso fez questão de diferençar os biocombustíveis "não sustentáveis" produzidos "sem nenhuma regulamentação", e os "sustentáveis" que quer produzir a UE.
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