Redação TN Petróleo/Assessoria Fapesp
A FAPESP e a Shell anunciaram na sexta-feira (08/10) investimentos de R$ 63 milhões no Research Centre for Gas Innovation (RCGI), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) com sede na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Desse total, R$ 51 milhões serão aportados pela Shell, e R$ 12 milhões, pela Fundação. Esses recursos permitirão ao RCGI ampliar seu escopo de pesquisa para investigar também estratégias de mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEE).
O anúncio, realizado em solenidade na USP, contou com a presença do governador João Doria, da secretária de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Ellen, do vice-presidente da FAPESP, Ronaldo Aloise Pilli, representando o presidente da Fundação, Marco Antonio Zago, do CEO da Shell do Brasil, André Lopes de Araújo, do reitor Vahan Agopyan e do diretor-geral do RCGI, Julio Meneghini.
“O bom papel é este. Quando o setor privado e o setor público, a academia, juntos, estabelecem metas e princípios para a execução de tarefas. É a continuidade disso que nos traz a satisfação de que estamos no caminho certo”, disse o governador. “O exemplo dessa parceria entre Shell, FAPESP e USP é muito simbólico. Estamos indo além no trabalho de redução de gases de efeito estufa e inovação do uso sustentável de gás natural pensando em biogás e hidrogênio, mas também avançando para captura e armazenamento de carbono”, afirmou a secretária de Desenvolvimento Econômico.
Constituído pela FAPESP e Shell em 2015, o RGCI conta com cerca de 400 pesquisadores atuando em 46 projetos de pesquisa focados em estudos avançados no uso sustentável do gás natural, biogás, hidrogênio, gestão, transporte, armazenamento e uso de CO2. Na avaliação do presidente da FAPESP, a ampliação do escopo de pesquisa direciona o RCGI para investigações relacionadas não apenas ao uso sustentável de energia, mas também às mudanças climáticas. “O combate às causas das mudanças climáticas globais é um importante desafio da humanidade, assumindo a posição de principal meta de todos os países, à medida que a ameaça da pandemia de COVID-19 se reduz”, sublinha.
Com a mudança de foco, o nome do RCGI passa a ser Research Centre for Greenhouse Gas Innovation, mantendo a mesma sigla, e incorporando cinco novos programas: Nature Based Solutions (NBS); Carbon Capture and Utilization (CCU); Bioenergy with Carbon Capture and Storage (BECCS); Greenhouse Gases (GHG) e Advocacy. Os cinco programas articulam 19 projetos de pesquisa, vários deles com potencial para serem disruptivos.
“O foco na mitigação do impacto das mudanças climáticas se alinha às estratégias da Shell do Brasil que mira a descarbonização”, disse o CEO da Shell do Brasil. O RCGI foi o primeiro CPE constituído pela empresa em parceria com a FAPESP; o segundo é o Centro de Inovação em Novas Energias (CINE), com sede nas universidades Estadual de Campinas (Unicamp) e de São Paulo (USP) e no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Araújo informou que um novo CPE está sendo planejado, o Offshore Innovations Science. “Ciência e tecnologia são fundamentais para a transformação da sociedade.”
O vice-presidente da FAPESP sublinhou, durante o evento, que, com o novo investimento da Fundação no RCGI, o total de recursos direcionados aos 22 CPEs constituídos pela FAPESP em parceria com empresas e universidades atinge a marca de R$ 1 bilhão. “Trata-se de um investimento de longo prazo, voltado para a solução de problemas. A pesquisa orientada para a missão tem orientado a FAPESP nos últimos anos”, ressaltou.
Os novos objetivos do RCGI foram apresentados pelo seu diretor-geral. “Sabemos que não bastam soluções que reduzam as emissões de gases de efeito estufa. É preciso ir além: capturar e armazenar carbono; transformar CO2 em matéria-prima para a indústria química; e superar gargalos de mercado, de regulação e de percepção pública”, destacou Meneghini. “É neste cenário que iremos atuar com nossos projetos”, resumiu.
O programa Nature Based Solutions, por exemplo, buscará soluções para promover o sequestro de carbono na vegetação e no solo com projetos de reflorestamento de espécies nativas, de restauração de pastagens degradadas, de sistemas integrados lavoura-floresta-pecuária. Também apoiará a prestação de serviços ecossistêmicos, além de dar suporte para a elaboração de políticas públicas e incentivar o bem-estar social.
Trilhar novas rotas químicas, biológicas ou eletroquímicas, transformando CO2 em matéria-prima para a indústria química, está no escopo do programa Carbon Capture and Utilization. Outra proposta inovadora é a aplicação da tecnologia de captura e armazenamento de carbono para a indústria de bioenergia, o que está previsto no programa Bioenergy with Carbon Capture and Storage. Nesse caso, o desafio será obter uma pegada negativa de carbono na cadeia de bioenergia, o que colocaria o Brasil na liderança mundial desse combustível.
Já o programa Greenhouse Gases trabalhará para encontrar meios de trazer maior confiabilidade no inventário de emissão de gases de efeito estufa do Brasil, além de desenvolver novas tecnologias para contê-las. “De nada adianta termos produtos e processos economicamente viáveis, com pegada zero de emissão, se não tivermos créditos de carbono de qualidade para comercializá-los”, ressaltou Meneghini. “Além disso, será necessário avaliar a viabilidade de cada um dos projetos em termos econômicos, jurídicos e sociais, a fim de desenvolver estratégias e apresentá-los aos grupos de interesse, o que caberá ao programa Advocacy.”
O vice-diretor-geral do RCGI, Alexandre Breda, executivo da Shell, também destaca que parte dos novos desafios do RCGI vai ao encontro das estratégias globais da empresa, que pretende ser neutra em carbono até 2050. “Além de um time excelente de cerca de 400 pesquisadores, hoje o centro tem um grau de maturidade e de organização que o habilita a enfrentar desafios complexos”, afirma.
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