É perfeitamente viável compatibilizar a produção agrícola para alimentos e para energia, segundo o professor Lee Lynd, do Dartmouth College, Estados Unidos, que foi um dos palestrantes na primeira Conferência Brasileira de Ciência e Tecnologia em Bioenergia (BBEST), realizada de 14 a 18 de agosto em Campos do Jordão (SP).
Em sua apresentação, Lynd também afirmou que os biocombustíveis líquidos são a melhor e mais sustentável alternativa para a aviação, o transporte marítimo e o rodoviário a longa distância, se comparado a outras formas de energia.
Segundo ele, os problemas relacionados à fome no mundo têm mais relação com a pobreza e o desenvolvimento econômico dos países do que com a produção de cultivos para bioenergia. “Depois de décadas de descaso, há um consenso emergente de que a melhor maneira de lutar contra a fome é ajudar os pobres e vulneráveis à fome a cultivar seu próprio alimento”, afirmou.
Lynd lembrou que a África tem 12 vezes mais terra com qualidade similar e 30% menos pessoas do que a Índia, mas o país asiático consegue produzir alimentos para a população. O problema para os africanos está mais na fraqueza organizacional e institucional do que nas restrições geográficas.
O Brasil, para ele, é um exemplo positivo de como é possível conjugar a produção agrícola para alimentos e energia. A África seria outra região com grande potencial e poderia replicar a experiência brasileira.
A África tem sido foco das pesquisas recentes de Lynd no âmbito do Global Sustainable Bioenergy Project (GSB), que publicou artigo sobre a produção de alimentos e energia pelo continente em maio deste ano na revista Nature.
Criado em 2009, o GSB é um projeto internacional que busca estudar e incentivar o desenvolvimento sustentável dos biocombustíveis. Além de liderar essa iniciativa, o pesquisador fundou e é sócio da Mascoma, empresa dos Estados Unidos criada em 2005 para pesquisar e desenvolver rotas tecnológicas para produção de etanol celulósico.
Lynd apresentou na BBEST uma proposta que permite ampliar a produção de biocombustíveis sem haver impacto nas áreas agrícolas destinadas aos alimentos. Ele mostrou estudos internacionais recentemente publicados que identificam áreas em todos os continentes onde a atividade de pastagem poderia ser intensificada.
“Também é possível aproveitar áreas de pastagem degradada ou que foram abandonadas e ainda conjugar a produção de cultivos que servem para alimentos e energia, caso do milho e da soja nos Estados Unidos, com a produção de azevém, por exemplo, uma gramínea usada para forragem que tem potencial para biocombustível”, disse.
“Outro caminho seria mudar as rações usadas na pecuária. Haveria ainda possibilidade de plantar matérias-primas para bioenergia em regiões nas quais não crescem cultivos para alimentação”, apontou.
A BBEST teve apoio da Fapesp, Bioen-Fapesp, CNPq, Capes, CTBE, Unica, Braskem, Embraer, BP Biofuels Brazil, Monsanto e Oxiteno.