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Desafio da OGX vai além do fundo do mar

Petróleo: Com trajetória de três anos, companhia de Eike Batista ainda tenta romper o ceticismo de muita gente

Valor Econômico
12/04/2010 00:00
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Com trajetória de menos de três anos, a OGX, do grupo de Eike Batista, já é a maior empresa brasileira privada de exploração de petróleo, e assumiu grande projeção no país pelo seu modelo agressivo de atuação. A meta é produzir em 12 anos o que a Petrobras levou 46 para conseguir. Ainda sem nenhuma reserva provada de petróleo ou gás, a OGX tem divulgado novas descobertas em ritmo acelerado, com grande nível de detalhamento, ao ponto de destacar a espessura líquida dos reservatórios (ou net pay , na nomenclatura do setor), o que é incomum nas notificações feitas no Brasil até agora.

 

 

A valorização das ações da pe-trolífera de Eike Batista tem acompanhado as boas notícias. Desde a abertura de capital (IPO, na sigla em inglês), em 12 de junho de 2008, as ações da companhia se valorizaram 55%, já considerando o preço ajustado após a divisão das ações ("split"). Nesse mesmo período, o Ibovespa teve valorização de 6,5%.

 

 

A direção da OGX recebeu o Valor para uma entrevista na qual o geólogo Paulo Mendonça, diretor-geral e de exploração e produção, e Reinaldo Belotti, diretor de desenvolvimento da produção, expuseram os planos da companhia e justificativas para tanto otimismo. Eles se queixam da dificuldade dos brasileiros de admitir o sucesso de compatriotas. Ambos só se disseram impedidos de falar sobre a OSX, a nova empresa do grupo, porque ainda respeitam período de silêncio imposto pelo IPO da companhia que atuará em construção naval.

 

 

A fase de seguidas notificações de descobertas de reservas na bacia de Campos é acompanhada, de um lado, com ceticismo, e, por outro, de surpresa. Nesses dois anos e meio de existência, a OGX já informou à Agência Nacional de Petróleo (ANP) a descoberta de reservas potenciais que podem somar de 2,1 bilhões a 4,7 bilhões de barris de petróleo. Para a companhia, trata-se de uma nova província petrolífera ao sul da bacia de Campos. A empresa começou há semanas uma campanha exploratória em águas rasas da bacia de Santos. O próximo passo serão as áreas que tem nas bacias do Espírito Santo, Pará-Maranhão e Parnaíba.

 

 

Desde outubro, quando anunciou a primeira descoberta no prospecto chamado Vesúvio, no bloco BM-C-43 da Bacia de Campos, OGX já notificou a ANP sobre 19 indícios de óleo em nove poços perfurados na bacia de Campos, sem contar a descoberta em um bloco na bacia de Santos, o qual é operado pela dinamarquesa Maersk.

 

 

Cinco dessas notificações foram feitas durante a perfuração em um único poço, apelidado de "Pipeline" (OGX-2, no bloco BM-C-41), onde foram encontrados reservatórios formados em diversas fases do período Cretáceo, entre 65 milhões e 145 milhões de anos atrás. Ali, a estimativa é de reservas de um bilhão a dois bilhões de barris. Mendonça diz que a descoberta de vários reservatórios numa mesma perfuração é possível porque Campos é uma bacia tipo "mil folhas". "É uma das mais prolíferas do mundo e com todas as condições para se encontrar petróleo desde os níveis rasos aos mais profundos, cada um formado com uma diferença de milhões de anos", afirma.

 

 

Atualmente, se forem consideradas todas as reservas "riscadas" da OGX, ou seja, as que podem apresentaram maior estimativa da existência de petróleo ou gás a partir da interpretação de dados sísmicos - vistos, portanto, antes da perfuração -, o volume pode chegar a 6,8 bilhões de barris segundo a certificadora DeGolyer & MacNaughton. Mas para comprovar essa projeção é preciso fazer milhares de perfurações. Só então, se forem feitas descobertas, esse volume pode ser comprovado.

 

 

As possíveis reservas da OGX correspondem a pouca menos da metade das atuais reservas provadas da Petrobras, sem incluir nas contas da estatal os campos gigantes do pré-sal. É evidente que no caso da OGX ainda se está no campo das possibilidades e no caso da estatal, o volume é comprovado e lançado no balanço.

 

 

A Petrobras não informa qual o volume de suas reservas possíveis, ou como são chamadas - Volumes Descobertos Economicamente Recuperáveis (VDER). Mas as estimativas apontam que elas variem entre 4,5 bilhões e 9,5 bilhões de barris (somadas apenas as maiores estimativas já divulgadas para Tupi, Guará e Iara), sem contar os 14,169 bilhões de barris que a Petrobras registra hoje como suas reservas provadas.

 

 

Em relatório encaminhados à Securities and Exchange Commission (SEC), a CVM americana, relativos a 2008, último ano disponível, a estatal informava que o pré-sal poderia elevar suas reservas provadas para algo entre 23,5 bilhões e 28 bilhões de barris de petróleo e gás.

 

 

As comparações com a Petrobras são inevitáveis, apesar da pouca idade da OGX. A estatal é a "nave-mãe", onde foi criada grande parte dos funcionários do primeiro escalão da empresa de Eike Batista. Quando deixou a petrolífera estatal após se aposentar, em junho de 2007 (um mês antes da criação da OGX), Mendonça trouxe cerca de 30 dos atuais 140 empregados da Petrobras, quase todos da área de exploração e produção. Foi um baque no setor.

 

 

Logo depois, a OGX fez um lance ousado de entrada na indústria do petróleo ao comprar 21 dos 23 blocos durante o 9º Leilão de áreas da ANP, em 2007, numa estreia espetacular.

 

 

A partir daí que surgiram comentários polêmicos sobre a ida de Mendonça para a OGX, carregando consigo informações sigilosas de áreas promissoras. Isso explicaria, conforme os comentários no mercado, o sucesso exploratório e as descobertas que se seguiram. Batista explicou ao Valor, na época, que o objetivo, no leilão, foi também obter concessões próximas ao seu porto do Açú, no litoral norte do Estado do Rio de Janeiro.

 

 

Conhecedor de todas as críticas e comentários a seu respeito, Mendonça, que era gerente-executivo de exploração quando deixou a estatal, responde convicto: "Seria impossível que um homem pudesse armazenar tal quantidade de informações que são processadas em supercomputadores". Ele considera as críticas "coisa arcaica e ultrapassada". Já se acostumou com o fato de ter se tornado repentinamente "o homem que sabia tudo". Diz não guardar mágoas. "Deixei muitos amigos na Petrobras".

 

 

Para ele, "quando se diz que uma pessoa tem informação privilegiada em petróleo, trata-se de uma besteira enorme". E acrescenta: "informação privilegiada em petróleo é o dado novo que se adquire e interpreta. É uma besteira dizer que eu trouxe dados, porque em seis meses é tudo público, a ANP publica. A informação privilegiada é a que se paga por ela, contrata. Temos sísmicas em 3D que só vão se tornar públicas daqui há 3 anos. Essas, sim, são privilegiadas".

 

 

Dentre os analistas de bancos e consultorias que acompanham a indústria de petróleo, as descobertas da OGX soam como música. Em relatório recente do Itaú Securities, os analistas chamam a atenção para o fato de a OGX estar se afastando do risco exploratório à medida que anuncia descobertas que podem se transformar em áreas produtivas rapidamente. Da mesma forma, destaca Nelson Rodrigues de Matos, do Banco do Brasil Investimentos. Lembra que após o IPO o maior risco era a companhia não descobrir nenhuma gota de petróleo. Com o tempo, à medida em que vão se confirmando descobertas em águas rasas e perto da costa, o risco está diminuindo.

 

 

As reservas da OGX só poderão ser contabilizadas em balanço quando forem feitos mais perfurações e testes. Mendonça afirma que até o fim deste ano espera ter uma previsão de reservas possíveis, prováveis, provadas e contingentes. Mas lembra que não é fácil provar reservas no mesmo ano em que é feita a descoberta, ainda mais porque a OGX está em plena campanha exploratória. A meta é otimizar o uso das cinco sondas de perfuração alugadas.

 

 

Isso significa que tem pressa de usar os equipamentos em novas áreas, mas para provar reservas é preciso fazer poços, coletar amostras de rochas e fazer testes de vazão. Com sotaque português, Mendonça reforça: "Estamos em plena campanha exploratória. E quanto mais se descobre, mais demora para provar reservas, e quando isso acontece, não se deseja parar de descobrir. Às vezes, demora".

 

 

A OGX planeja chegar a 2019 produzindo 1,4 milhão de barris de petróleo e gás ao dia. Até lá, terá encomendado 48 embarcações da empresa irmã - o estaleiro OSX. Vão ser 19 plataformas flutuantes (FPSO) e navios de apoio e plataformas tipo TLWP.

 

 

A meta ambiciosa supõe que ela vai conseguir em doze anos uma produção que a Petrobras, fundada em 1953, demorou 46 anos para alcançar. A estatal somente em 1999 alcançou produção total de 1,405 milhão de barris de óleo e gás. Há quem veja esse plano com ceticismo. E até suspeita de supervalorização para elevar o valor das ações.

 

 

O diretor-geral da OGX garante que todo o plano é factível de realização. Reinaldo Belotti, também ex-Petrobras, decide entrar nesse embate, enfaticamente. Lembra que a estatal demorou para produzir mais de 1 milhão de barris porque tinha, como ainda tem, outras atividades no país decorrentes do seu monopólio. Cita a construção de refinarias, de uma longa malha de gasodutos, a rede de distribuição de combustíveis, o comprometimento com o programa do álcool e biodiesel, entre outras.

 

 

"Durante muitas décadas a missão mais importante da Petrobras foi suprir o país com combustíveis. Já a OGX é diferente: ela será uma empresa apenas de exploração e produção de petróleo", observa Belotti.

 

 

Ele acrescenta mais duas razões que, a seu ver, justificam as previsões de produção. Em primeiro lugar, aponta a experiência de 30 anos do corpo técnico da empresa; em segundo, a tecnologia disponível hoje e com a qual não se contava nos anos iniciais da Petrobras; e, por último, o fato de a OGX não ter os constrangimentos legais da Petrobras. Por exemplo, em contratações. Isso, diz, dá mais agilidade à empresa privada.

 

 

Os dois executivos não disfarçam uma certa perplexidade com a descrença em relação à possibilidade de sucesso da companhia de Batista. "Quando a OGX foi criada foi dito que nunca íamos conseguir fazer um private placement (colocação privada), e conseguimos. Aí disseram que não íamos conseguir blocos, depois que não íamos conseguir sondas, pois não existiam sondas no mundo. E conseguimos cinco", afirma Belotti, que em continua a enumerar os obstáculos ultrapassados pela empresa. "Os céticos diziam que não conseguiríamos contratos com prestadores de serviços e hoje a Schlumberger trabalha praticamente dentro da OGX"

 

 

Belotti aponta o caso de navios PSV no Brasil. "A Edison Chouest (de Santa Catarina) fez quatro para a OGX". E lembra a descrença antes do IPO, um dos maiores do Brasil até então, que captou R$ 6,7 bilhões. "O que se fala agora? Que não vamos conseguir furar, que não vamos conseguir achar. E estamos conseguindo tudo isso", desabafa o executivo.

 

A despeito de tudo isso, na sexta-feira, a OGX fechou com valor de mercado de R$ 57 bilhões.

 

Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner, do Rio    

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