A petroquímica Braskem fechou contrato com pelo menos dez usinas de etanol para a compra de álcool químico. O produto será utilizado para a produção de resina verde em sua fábrica em Triunfo (RS), cuja operação terá início em setembro. A empresa consumirá cerca de 700 milhões de litros anuais de etanol, o que a torna a maior consumidora global desse produto para uso químico, superando a Rhodia. Se considerar todos os tipos de álcool, o grupo fica em terceiro no país, atrás de BR e Ipiranga, que usam o produto apenas como combustível.
Além da ETH Bionergia, empresa sucroalcooleira da Odebrecht, conglomerado que também controla a Braskem, e Cosan, outras oito usinas fazem parte do seleto grupo de fornecedores. Estão nessa lista a Bunge, Copersucar, AdecoAgro, CPA Trading, Noble, Açúcar Guarani e Mandu. A petroquímica também vai buscar o produto no mercado "spot" (físico) e a exigência é de que seus fornecedores estejam enquadrados no código de ética da empresa, que respeitem questões relativas à sustentabilidade.
O grupo não detalha o volume da compra de etanol por usinas, nem valor de cada contrato. Estimativas, com base nos preços atuais do álcool, indicam que o desembolso para o consumo de 700 milhões de litros por ano gira em torno de R$ 700 milhões.
A Braskem quer ser tornar cada vez mais uma empresa "verde". Em setembro, a companhia vai apresentar proposta para seu conselho de administração aprovar aportes em um novo projeto de resina verde. Segundo Bernardo Gradin, presidente da petroquímica, a empresa estuda projetos dentro e fora do país, em parceria com governos, para desenvolver novas rotas sustentáveis de produção.
A fábrica de Triunfo deverá produzir por ano 200 mil toneladas de resinas "verdes" (eteno e polietileno). O desafio da companhia é desenvolver uma rota de produção de polipropileno a partir de matéria-prima renovável, projeto que estava sendo tocado pela Quattor antes da incorporação pela Braskem. Segundo Gradin, os custos de produção dessa rota ainda não são economicamente viável, o que tem exigido pesquisas do grupo.
O posicionamento sustentável da companhia não deverá afetar os projetos em andamento no exterior, que envolvem investimentos na Venezuela, Peru e México. Nos EUA, onde adquiriu a Sunoco, Gradin informou que a companhia só voltará a analisar novas aquisições a partir do quarto trimestre. O executivo informou que a companhia desistiu de vender a distribuidora de produtos químicos quantiQ, mas está em busca de um sócio para esse negócio. No segundo trimestre, a empresa se desfez de outro ativo, a Varient.
No campo do suprimento energético, o grupo mantém interesse, como autoprodutor, em ter participação na usina de Belo Monte. A petroquímica ainda não obteve uma resposta sobre as premissas apresentadas para sua entrada no consórcio responsável pela construção da hidrelétrica.
Ontem, a companhia anunciou que encerrou o segundo trimestre com lucro líquido de R$ 45 milhões, valor bem menor quando comparado ao R$ 1,156 bilhão no mesmo período do ano passado. No mesmo período, a receita líquida alcançou R$ 6,516 bilhões, alta de 47% sobre o segundo trimestre de 2009. No primeiro semestre, o faturamento líquido do grupo ficou em R$ 10,982 bilhões, alta de 58% sobre o o primeiro semestre de 2009. No período, a Braskem encerrou com prejuízo líquido de R$ 78 milhões, ante lucro líquido de R$ 1,166 bilhão.
A empresa planeja realizar, ainda este ano, emissão de eurobônus para melhorar o perfil de sua dívida. "O mercado está receptivo para determinados nomes (...). Para alguns emissores, há receptividade", afirmou Marcela Drehmer, responsável pela área de finanças e relações com investidores da Braskem. Drehmer disse que a companhia ainda não definiu o volume financeiro da futura captação, mas adiantou que a operação deverá seguir o montante de benchmark (referência) do mercado de eurobônus.
Com o aquecimento do mercado no segundo semestre, Gradin acredita que a demanda por resinas deverá crescer 10% este ano, atingindo 4,7 milhões de toneladas, ante a previsão anterior, de 4,5 milhões de toneladas.