Valor Econômico
Há exato um ano, a Shell vendeu sua empresa de GLP para a Ultragaz por US$ 170 milhões. Mês passado, foi a vez da italiana Liquigás/Agip vender seu ativo para a Petrobras. Agora, a família Lemos de Moraes vendeu os 51% que tinha na Supergasbras para seu sócio minoritário, a holandesa SHV, por US$ 100 milhões. Os holandeses poderão pagar mais a depender do resultado da companhia entre 2005 e 2007. A SHV, que também é dona da Minasgás, deve integrar os ativos das duas companhias. Ontem, as ações da Supergasbras dispararam 7,8%, fechando a R$ 4 por lote de mil.
Na avaliação de um executivo do setor, os três negócios foram fechados a preços mais baixos se comparadas a aquisição feita na Argentina. A Repsol comprou a Algas por US$ 700 a tonelada/ano, enquanto a Supergasbrás foi vendida por US$ 200 a tonelada/ano. "O mercado está ruim. As margens estão apertadas", diz o executivo. "As multinacionais estão saindo do Brasil porque esse negócio não dá lucro."
Com a saída de empresas, o setor, já oligopolizado, vem aumentando sua concentração. Em 2003, as cinco maiores empresas tinham cerca de 85% do mercado. Hoje, as quatro maiores detêm quase 90%. "É um setor que hoje exige muita escala e, em outros países, essa concentração é normal", diz Sérgio Bandeira de Mello, superintendente do Sindigás, que reúne 13 distribuidoras.
Um estudo da consultoria Trevisan, encomendado pelo Sindigás, mostra que, na Argentina, onde existem 40 empresas, apenas 5 detêm 80% do mercado. Na Inglaterra, quatro das 50 distribuidoras possuem os mesmos 80%, situação que se repete em maior ou menor grau em 24 países, segundo a Trevisan.
O estudo mostra que, aparentemente, o negócio de GLP no país deixou de ser atraente. A margem bruta das empresas é de R$ 7,13. Com as despesas operacionais, as empresas, segundo a Trevisan, operam com prejuízo de R$ 0,59 por botijão.
Bem tido como de primeira necessidade para as camadas mais pobres, o gás de botijão teve o preço liberado em 2002 com o fim do subsídio. A Petrobras, maior produtora de GLP, adotou como parâmetro o preço de paridade com importação. Mas, naquele mesmo ano, os preços saltaram de R$ 15 para R$ 30, por conta principalmente da alta cambial no período pré-eleitoral.
Diante da impopularidade, o governo baixou o preço do botijão de 13 quilos, desvinculando da paridade. Mesmo assim, o consumo não reagiu diante da perda de renda de população. De 2000 para 2003, o consumo caiu paulatinamente, recuando 12%. No setor industrial, as distribuidoras de GLP perderam espaço para o gás natural. Segundo o Sindigás, a expectativa neste ano é que o mercado cresça 2,5%, mas abaixo da previsão de expansão do Produto Interno Bruto. (PIB).
A entrada da Petrobras no setor de GLP, maior fornecedora da matéria-prima às distribuidoras, foi interpretada como uma estatização. A Petrobras descarta a possibilidade de fazer guerra de preços.
O setor privado faz cara feia para a estatal, mas prefere não opinar publicamente sobre o negócio. A agenda das distribuidoras prevê a desoneração de impostos e o aumento do valor pago no auxílio-gás, que integra o Bolsa Família, o pacote assistencial do governo federal. O vale sai por R$ 7, o mesmo valor desde o início do programa. Aposta também no combate à informalidade para aumentar a margem das empresas. São 70 mil revendas credenciadas, mas acredita-se que existam 200 mil informais, de bancas de jornais a postos de combustíveis.
O futuro não está garantido. Para Ueze Zahran, dono da Copagaz, que possui 7% do mercado, as empresas precisam se preocupar mais com a rentabilidade do que o volume. "Se ficar forçando para aumentar mais e mais os volumes, as empresas vão destruir o preço." Zahran diz que, apesar do constante assédio, não pensa em vender a Copagaz. "Vou lutar até o fim. A luta que se perde é aquela você abandona."
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