A AES Eletropaulo pode repetir nos próximos exercícios a política de reduzir a distribuição de lucros aos investidores se a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mantiver o índice de revisão tarifária que propôs para a companhia para o período que vai até 2015.
"Numa revisão tarifária dura, podemos fazer ajustes nas três pontas", disse na quinta-feira (19) o diretor-presidente da empresa, Britaldo Soares, durante conferência com analistas. Ele se referia a mudanças na política de dividendos, no nível de endividamento e no plano de investimentos. "Não se pode trabalhar apenas com um aspecto", reforçou quando questionado se a empresa poderia cortar ainda mais os dividendos.
Do lucro líquido de R$ 1,57 bilhão apurado em 2011, a empresa reteve em reserva estatutária R$ 765 milhões e distribuiu 50% de dividendos. No exercício anterior, o valor total dos lucros para distribuição atingiu R$ 1,5 bilhão, ou 96,5% do lucro líquido.
No último dia 10 de abril, a Aneel propôs para a distribuidora paulista um índice de revisão tarifária de -8,81%, no caso do efeito médio a ser percebido pelo consumidor, e de -5,14% em termos de efeito econômico. Essa decisão não é final porque fica em consulta pública até 11 de maio.
A revisão tarifária tem como principal objetivo analisar o equilíbrio econômico-financeiro da concessão. Enquanto o reajuste tarifário é realizado anualmente, a revisão ocorre geralmente a cada quatro anos, conforme estabelecido no contrato de concessão de cada distribuidora.
A AES Eletropaulo questiona nesse procedimento o valor reconhecido pela Aneel na base de remuneração regulatória, de R$ 10,6 bilhões. Quanto mais gastos feitos pela empresa forem reconhecidos pela agência nesse quesito como investimentos regulatórios, menor é o espaço do órgão para cortar tarifas.
A AES Eletropaulo queria que a base considerada pela Aneel fosse maior. A empresa aponta que cerca de R$ 1,2 bilhão deveria estar na conta, questionando, por exemplo, a forma com que a Aneel contabilizou preços de cabos.
Com a incerteza gerada pela revisão tarifária, a AES Eletropaulo vem optando por práticas que preservem o caixa, disse Britaldo. "Com a natureza desse processo (de revisão tarifária a cada quatro anos) atuamos não apenas na questão de dividendos, mas também com a questão do caixa, que tem ficado entre R$ 1,7 bilhão e R$ 1,8 bilhão, de um endividamento alongado, de sete anos, e de amortizações mais longas".
Britaldo apontou que considera baixa a alavancagem da companhia, com uma relação de um para um entre dívida líquida e ebitda (lucro antes de impostos, depreciação, juros e amortizações). O presidente da AES Eletropaulo confirmou o plano de investir R$ 840 milhões em 2012, 33% mais que em 2008.
Sobre esse tema, o diretor vice-presidente financeiro e de relações com investidores, Rinaldo Pecchio, que também participava da conferência com analistas, disse que a empresa tem uma situação bastante sadia para fazer frente ao próximo ciclo de investimento, mesmo prevendo o cenário de revisão tarifária mais apertado".
O presidente da AES Eletropaulo ressaltou entretanto que o compromisso maior da empresa é com a sustentabilidade, e não descartou eventuais ajustes no plano de investimentos.
"A gente tem espaço sim (para rever investimentos), mas independe do processo de revisão", disse Britaldo durante conferência em que respondeu a perguntas de analistas das instituições financeiras Itau-BBA, Bradesco, Citibank, Safra, BTG Pactual, Goldman Sachs e UBS.