Reuters, 20/10/2022
Enquanto a Petrobras mantiver os preços da gasolina nas refinarias, a menor oferta de etanol será um fator com maior protagonismo a colaborar com preços mais altos do combustível fóssil, que conta com uma mistura de 27% de álcool anidro, disseram especialistas à Reuters.
A situação rara --- uma vez que o valor da gasolina na bomba geralmente é mais influenciado pela Petrobras --- ocorre em função de estoques baixos do biocombustível, em meio a uma safra de cana atrasada e forte direcionamento da matéria-prima para produção de açúcar, produto de exportação mais rentável que o etanol.
Na última semana, os preços médios da gasolina nos postos do Brasil registraram sua primeira alta em mais de três meses, segundo pesquisa da reguladora ANP, contando com o fator etanol, além de reajustes praticados em outubro pela importante refinaria privatizada na Bahia (da Acelen) e um movimento de revendedores em busca de margens, segundo especialistas e graduadas fontes próximas ao governo e da Petrobras.
"O etanol tem potencial para subir porque os estoques de anidro estão baixos... essa safra está sendo muito peculiar, a indústria perdeu dias de moagem em um número muito maior do que observamos em anos anteriores", afirmou o presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari, explicando os efeitos das chuvas para o processamento de cana e o mercado de combustíveis.
Mas ele ressalvou que, para a Datagro, a referência de preço da gasolina no Brasil é a cotação da Petrobras, que está há mais de 40 dias sem reajustar os preços do combustível em suas refinarias.
"Se algum agente, seja Acelen, ou importador que importa e vende gasolina a níveis diferentes do preço de venda da Petrobras, pode acontecer... mas não é um fator que muda a realidade do preço de referência principal", disse Nastari.
A Acelen, segunda maior refinaria do Brasil em capacidade de refino, tem seguido a paridade do valor de importação, enquanto a Petrobras mantém suas cotações antes da eleição.
A expectativa é que os preços do etanol permaneçam com tendência altista nas próximas semanas, apontou o consultor sênior de petróleo gás e renováveis da StoneX, Smyllei Curcio.
Assim como Nastari, ele ainda citou que os produtores de etanol que têm fôlego financeiro estão segurando vendas para janeiro, quando impostos federais (PIS/Cofins) de combustíveis devem voltar, elevando a competitividade do biocombustível frente à gasolina e proporcionando melhores retornos.
"Outro motivo é que tem chovido bastante..., o que tem dado uma desacelerada na colheita", pontuou Curcio.
O preço médio do etanol anidro nas usinas de São Paulo, principal mercado produtor e consumidor do país, subiu 5,6% no acumulado das duas primeiras semanas de outubro, segundo dados do Cepea/Esalq, enquanto o álcool hidratado (usado diretamente nos carros "flex") avançou no mesmo período quase 10%.
"O que se desenha até o momento é um volume moído de cana menor na região centro-sul, 18 usinas já com a moagem encerrada, exportações fortes, estoques baixos e, ainda, perspectiva de valorização da gasolina por conta do comportamento do preço do petróleo nas últimas semanas", disse o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em nota nesta semana.
Já o sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Pedro Rodrigues, também citou como causa do aumento da gasolina um movimento de tentativa de melhorar as margens pelo setor de postos combustíveis.
"Vale lembrar que o preço da gasolina é livre no Brasil, ou seja, significa dizer que os donos dos postos podem precificar o produto conforme sua necessidade. O principal fator, na minha opinião, é que em razão das quedas sucessivas no preço alguns postos tenham visto a possibilidade de aumentar suas margens sem prejudicar o consumo", disse Rodrigues à Reuters.
Fale Conosco
21