Artigo

Um ano que precisa ser novo

A insólita comemoração dos economistas ante a desaceleração da economia nacional no terceiro trimestre, recém-divulgada pelo IBGE, corrobora uma preocupação consensual dos setores produtivos: expansão superior a 7% ao ano levaria o Brasil a tropeçar em seus antigos problemas basilares, pod

Redação
14/01/2011 17:41
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Por Juan Quirós*

 

A insólita comemoração dos economistas ante a desaceleração da economia nacional no terceiro trimestre, recém-divulgada pelo IBGE, corrobora uma preocupação consensual dos setores produtivos: expansão superior a 7% ao ano levaria o Brasil a tropeçar em seus antigos problemas basilares, podendo ameaçar o presente ciclo positivo de crescimento. Assim, para conquistarmos o direito de expandir nosso PIB a patamares mais ousados, resgatando de modo definitivo o passivo social e nos aproximando do pleno emprego, são prementes algumas lições de casa para solucionar questões pontuais e, sobretudo, os gargalos estruturais que há tanto tempo nos atrapalham. Delineiam-se, assim, os desafios para o ano novo.


         A maior urgência é equacionar o desequilíbrio do câmbio, principal responsável por dois indicadores preocupantes, constantes dos dados referentes ao terceiro trimestre de 2010: a elevação de 7,4% da importação de bens e serviços e o recuo de 1,6% da indústria de transformação. A prioridade máxima, contudo, é realizar as reformas tributária/fiscal, previdenciária e trabalhista, essenciais para reduzir o “Custo Brasil”, que tem impacto negativo na competitividade do País.


Se continuarmos postergando essa revisão do marco legal, será muito difícil crescer mais do que se tem observado sem gerar pressão sobre a oferta das empresas, provocar aumentos de preços ameaçadores à taxa de inflação e obrigar o Banco Central a apertar mais a política monetária. Ademais, desonerar a produção é fundamental para atrairmos maior volume de capital externo destinado a atividades produtivas e alcançarmos um novo e mais elevado patamar no tocante ao nível de investimento das empresas, medido pela Formação Bruta de Capital Fixo. Seu crescimento foi de 3,9% no terceiro trimestre de 2010 em relação ao segundo e 21,2% no comparativo com 2009. A tendência é muito positiva, mas os números ainda estão abaixo do que se verifica em outras nações emergentes e aquém do necessário para a sustentabilidade de uma expansão anual próxima de 7%.


Simultaneamente às reformas-macro, há outras quatro questões decisivas para o Brasil a serem resolvidas em 2011. A primeira refere-se à política de comércio exterior. A presente conjuntura aguda do câmbio deixou ainda mais aparentes as vulnerabilidades brasileiras quanto à competitividade internacional e acesso aos mercados externos. No que tange à competitividade, seu equacionamento implica as próprias reformas constitucionais, a modernização e adequação da infraestrutura e o incremento da inovação tecnológica e produtiva. Quanto à ampliação do acesso a mercados, pressupõe-se atuação mais assertiva nas negociações e acordos comerciais e a inserção de produtos e serviços com base de distribuição e comercialização em mercados estratégicos para o comércio exterior. Para o sucesso nessas demandas, é preciso haver mais sinergia na política comercial, com um direcionamento compartilhado entre o setor público e a iniciativa privada.


O segundo tema pontual estratégico é o estabelecimento de uma política eficaz para ampliar o número de empresas brasileiras com investimentos produtivos diretos no Exterior. Consolidando-se como sétima maior economia, o Brasil ainda tem número muito restrito de companhias efetivamente internacionalizadas. É preciso discutir a eventual ampliação das chamadas atividades de alto interesse nacional, previstas em leis e que têm tratamento diferenciado em termos de financiamento, de modo que não se contemplem apenas setores, mas também projetos, em quaisquer ramos, que possam representar ganhos em escala. Hoje, há numerosas empresas emergentes e altamente aptas a se inserirem no mercado global, fora as já conhecidas, estabelecendo filiais e subsidiárias em outras nações.


O terceiro item de grande importância é encontrar soluções mais efetivas para o financiamento da infraestrutura, equacionando-se os gargalos dos transportes e de energia e acelerando as obras necessárias à realização da Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Uma das prioridades, nesse contexto, refere-se aos aeroportos, cuja estrutura e capacidade estão muito abaixo da demanda, que deverá crescer no mesmo ritmo da economia, com grave risco de estrangulamento. Para atender à adequação da infraestrutura em geral exige-se investimento anual de aproximadamente R$ 160 bilhões, 53% a mais do que o valor realizado em 2009.


O quarto desafio pontual refere-se à falta de profissionais especializados, um problema relacionado à precariedade do ensino que pode transformar-se em sério obstáculo para a área de infraestrutura. Um exemplo: estima-se que já faltem mais de 20 mil engenheiros para trabalhar em todo o País, que forma cerca de 30 mil desses profissionais por ano (para uma população de 190 milhões de pessoas), ante 80 mil na Coréia do Sul (com apenas 48,3 milhões de habitantes). Na Rússia, são 190 mil bacharéis, na Índia, 250 mil e na China, 400 mil.


O Brasil vai bem, mas poderá ir ainda melhor. Por isso, 2011 precisa ser um ano efetivamente novo quanto à perspectiva histórica de mudar os velhos problemas e não postergar as conhecidas soluções.


*Juan Quirós é presidente do Grupo Advento e vice da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da ABDIB (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base).
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