Artigo

Sobre o papel da confiança na economia brasileira, por Anderson Pellegrino

Anderson Pellegrino
04/01/2019 20:42
Visualizações: 706 (0) (0) (0) (0)

O ano de 2019 chega repleto de desafios ao Brasil. Entre eles, destaque para necessidade de aceleração do processo de retomada do crescimento econômico, hoje ainda tímido e frágil. De fato, as sequelas da crise ainda estão vívidas no país: mais de 12 milhões de brasileiros estão desempregados, segundo o IBGE, e mais de 60 milhões estavam inadimplentes em 2018, conforme a Serasa. Esse nefasto quadro é resultante de 11 trimestres de recessão, com perdas acumuladas no PIB em torno de 7% entre 2014 e 2016. A recuperação começou em 2017, com 1% de crescimento do PIB e permaneceu em 2018 com 1,35% (previsão de mercado para o indicador), desempenhos pálidos. O caminho para uma retomada consistente do crescimento econômico ainda parece desafiante, portanto.

Para a superação do atual cenário econômico algumas condições estão postas. Primeiramente, o novo governo, nos âmbitos executivo e legislativo, terá que conduzir reformas pouco populares, porém saneadoras do ambiente econômico no médio prazo. Refiro-me às áreas da previdência e tributária. Na primeira, a reforma enfrentará o desafio de propor um regime previdenciário novo, capaz de arrumar o descompasso existente entre o crescimento da população economicamente ativa e os inativos e de promover uma estrutura mais justa e igualitária, corrigindo, por exemplo, diferenças existentes entre a previdência pública e a privada. Na segunda, terá que apresentar uma reforma tributária que elimine a complexidade e as inúmeras distorções - sociais e produtivas - provocadas pelo atual regime, que opera como um “freio de mão puxado” no aumento da competitividade e no estímulo ao empreendedorismo no país. Aprovadas, tais reformas devem, de imediato, afetar positivamente a confiança do empresariado - nacional e estrangeiro - na economia brasileira, ainda que seus reais efeitos sobre o ambiente socioeconômico devam demorar mais tempo para aparecer, em especial no deteriorado quadro fiscal do governo. Mas isso já pode fazer muita diferença.

A retomada da confiança do empresariado é um elemento chave para a aceleração da recuperação econômica. É dela que virá o impulso para a ampliação do investimento produtivo, responsável direto pelo aumento do produto, do emprego, da massa salarial e, em decorrência, do consumo das famílias. E aqui temos um ponto central: reaquecer o consumo das famílias, algo imprescindível para que o país volte a sonhar com um crescimento econômico mais robusto e atrelado ao mercado interno. Ativar o velho circuito investimento/produto/emprego/renda/consumo é, portanto, caminho obrigatório ao crescimento e à redução do atual grau de endividamento dos agentes econômicos, empresários e trabalhadores, aliviando inclusive a pressão sobre as contas públicas.

Mas apenas a retomada da confiança basta para que haja ampliação do investimento produtivo? A resposta é não. Esta somente acontecerá se houver iniciativas governamentais no intuito de promover melhorias no ambiente de negócios. Para se ter ideia do quadro atual, o Brasil ocupa, na última edição (2019) do relatório Doing Business (publicação do World Bank Group), a 109ª posição no ranking geral de “facilidade de se fazer negócios em um país” ante 190 países analisados no planeta. Para compor esse ranking vários indicadores foram analisados, como por exemplo: “Começando um negócio”, que busca medir tempo gasto e dificuldades para se começar um negócio, “Pagamento de impostos”, que reflete o impacto da carga tributária nos negócios, e “Negócios transfronteiriços”, que mostra tempo gasto e dificuldades para realização de negócios internacionais e comércio exterior no país. No primeiro ocupamos a 140ª posição, no segundo amagamos a 184ª posição, e no terceiro ficamos com a 106ª posição. Aqui, claramente a necessidade de reformas, modernização, revisão e desburocratização, em especial em de certos marcos regulatórios, se faz urgente. Algo preconizado inclusive no próprio relatório do World Bank. A figura do agente Estado se reafirma então como zelador, promotor e regulador de um ambiente de negócios produtivo, atraente, ágil e competitivo, e que pode inclusive contar com sua participação em parcerias público-privadas em áreas estratégicas ao desenvolvimento nacional.

A previsão de mercado (FOCUS - BACEN) para o crescimento do PIB brasileiro para 2019 oscila em torno de 2,5%. Já o FMI (Fundo Monetário Internacional) projeta para o Brasil crescimento de 2,4%. O fato é que podemos impor desempenho melhor do que o hoje previsto, inclusive em razão das projeções de crescimento econômico do FMI para países emergentes (do qual fazemos parte) e para países desenvolvidos em 2019: 4,7% para o primeiro grupo e 2,1% para o segundo grupo. Mas sem falso otimismo. O elemento chave para que isso aconteça é a confiança. E a principal variável de ajuste são as reformas, que devem ser conduzidas rapidamente pelo governo e estar assentadas sobre as bases democráticas e institucionais em que o país e a sociedade historicamente se apoiam.

Sobre o autor: Anderson Pellegrino é economista e Mestre em História Econômica pelo Instituto de Economia da UNICAMP. Doutorando em Desenvolvimento Econômico. Atualmente é palestrante, professor convidado dos cursos de MBA da IBE Conveniada FGV. Autor e coautor de livros nas áreas de desenvolvimento econômico e economia internacional.

 

 

Mais Lidas De Hoje
veja Também
Logística
Vast Infraestrutura inicia construção do parque de tanca...
26/08/25
Biodiesel
Rumo a uma navegação mais sustentável, Citrosuco inicia ...
26/08/25
ANP
Oferta Permanente de Concessão: resultado parcial do 5º ...
26/08/25
PD&I
Projeto Embrapii transforma algas de usinas hidrelétrica...
26/08/25
PPSA
Leilão de Áreas Não Contratadas será realizado em dezembro
26/08/25
IBP
Desafio iUP Innovation Connections inicia etapa de capac...
25/08/25
Transição Energética
Fórum Nordeste 2025 discute energias renováveis, sustent...
25/08/25
Margem Equatorial
10 perguntas e respostas sobre a Avaliação Pré-Operacion...
25/08/25
Internacional
UNICA participa de encontro internacional na Coreia de S...
25/08/25
Reconhecimento
HPG Lab é premiado no Prêmio Inventor Petrobras 2025 com...
25/08/25
Combustíveis
Etanol anidro recua e hidratado sobe na semana de 18 a 2...
25/08/25
Firjan
Rede de Oportunidades na Navalshore 2025 bate recorde de...
22/08/25
Mobilidade Sustentável
Shell Eco-marathon Brasil 2025 desafia os limites da mob...
22/08/25
Evento
Cubo Maritime & Port completa três anos acelerando desca...
22/08/25
IBP
27º Encontro do Asfalto discute futuro da pavimentação c...
22/08/25
RenovaBio
ANP aprova primeiro certificado da produção eficiente de...
22/08/25
Pessoas
Bruno Moretti é o novo presidente do Conselho de Adminis...
22/08/25
Gasodutos
ANP realizará consulta pública sobre propostas tarifária...
21/08/25
Combustíveis
Revendedores de combustíveis: ANP divulga orientações de...
21/08/25
Firjan
Investimentos no estado do Rio de Janeiro podem alcançar...
21/08/25
Energia Solar
Thopen inaugura 6 usinas solares e amplia atuação no Par...
21/08/25
VEJA MAIS
Newsletter TN

Fale Conosco

Utilizamos cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você concorda com a nossa política de privacidade, termos de uso e cookies.