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Preços do etanol devem manter incentivo à produção no início da safra, por Plinio Nastari

Plinio Nastari
15/04/2019 21:43
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Diante da interpretação equivocada de alguns produtores de etanol de que os estoques de etanol na região Centro-Sul do Brasil seriam superiores à capacidade do mercado de absorvê-los no período de entressafra, houve um acúmulo de oferta em um prazo relativamente curto durante a entressafra de cana-de-açúcar, o que causou uma atípica queda de preços do etanol nesse período. Isso tudo ocorreu por conta do desejo de manter as vendas aquecidas em resposta ao recuo do preço da gasolina na re%1naria, que apresentou uma queda abismal entre meados de setembro e a primeira semana de janeiro, recuando de R$ 2,250 para R$ 1,453 por litro nas re%1narias, livre de impostos. Esse temor levou produtores a desovarem seus estoques, pressionando para baixo os preços em um momento atípico para o mercado.

Com os preços do etanol hidratado mantendo-se mais atrativos do que os da gasolina C (contendo 27% de etanol anidro) nos postos, o consumo de etanol hidratado atingiu 19,39 bilhões de litros em 2018, um incremento de 42,1% sobre 2017. Em janeiro último, essa tendência manteve-se, com o consumo de etanol hidratado no Brasil tendo alcançado 1,85 bilhão de litros, o que é um recorde para esse mês e um aumento de 34,4% sobre o volume consumido em janeiro de 2018.

Por outro lado, foram consumidos, em janeiro, 2,28 bilhões de litros de gasolina, uma queda de 7,9% em relação ao mês de janeiro de 2018. Mas, em função do forte aumento do consumo de etanol hidratado, sem se esquecer, também, da expansão do consumo de gás natural veicular (GNV), o mercado de combustíveis do ciclo Otto atingiu 4,64 bilhões de litros de gasolina equivalente em janeiro, um aumento de 1,6% em um ano.

Como resultado, a participação do consumo total de etanol (anidro mais hidratado) no mercado de combustíveis do ciclo Otto, em gasolina equivalente, atingiu 46,1%, a maior participação desde 1994 (47,7%).

Porém, o mercado virou o jogo desde o início de fevereiro e, em rápida velocidade, recompôs o preço à medida que os produtores passaram a indicar sinais de que a retomada da moagem seria postergada dado o atraso %1siológico dos canaviais. Desde o início de março, com os produtores mais reticentes nas negociações, o preço do etanol hidratado em São Paulo disparou em 20,1%, para R$ 1,833/litro, sem impostos, enquanto o preço médio da gasolina na re%1naria subiu 25% nesse mesmo período, para R$ 1,820/litro.

A próxima pergunta que o mercado tentará responder, agora, é se ainda haverá espaço para que os preços do etanol continuem em alta nos próximos dias. Na semana passada, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio do etanol hidratado na bomba perdeu marginalmente a sua competitividade em relação ao da gasolina no estado do Paraná, com a paridade de preço atingindo 70,15% - se bem que a relação de preços nesse estado já não estava muito favorável ao abasteci-mento do hidratado há pelo menos duas semanas, quando a paridade já era praticada um pouco acima de 69%. No entanto, até o %1nal de fevereiro, a competitividade do hidratado seguiu robusta nos estados de São Paulo (64,4%), Mato Grosso (58,4%), Minas Gerais (64,8%) e Goiás (67,1%).

É bom lembrar que, diante da necessidade de caixa, algumas usinas já devem ter retomado a moagem, por mais que os canaviais não tenham alcançado o estágio de desenvolvimento %1siológico ideal para o corte. Igualmente, alguns produtores deixaram cana bisada no campo e podem optar por usufruir dos preços mais elevados.

De qualquer maneira, na terceira semana de março último, o preço do etanol hidratado foi negociado em termos equivalentes a US$ 0,1499/libra-peso FOB Santos açúcar cru, base em Ribeirão Preto, 167 pontos acima do preço de exportação do açúcar Very High Pol (VHP) em Santos, mantendo, portanto, o incentivo à produção de etanol no início da safra 2019/20.

Sobre o autor: Plinio Nastari é presidente da DATAGRO e representante da Sociedade Civil no CNPE (Conselho Nacional de Política Energética)

*Texto originalmente publicado pela revista Agroanalysis/FGV - Edição Abril de 2019

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