Artigo Exclusivo

O processo até um futuro mais verde na indústria marítima, por Marcus Cabral

“The stone age did not end because the world ran out of stones, and the oil age will not end because we run out of oil.” Don Hubert

Redação TN/Assessoria
30/08/2022 15:29
O processo até um futuro mais verde na indústria marítima, por Marcus Cabral Imagem: Divulgação Visualizações: 3051

A indústria marítima é milenar e já atravessou diversos períodos de evolução, em todos os sentidos, incluindo mudanças de tecnologia nas suas fontes de energia. Força humana, ventos e carvão são apenas algumas das fontes que foram utilizadas em todo o período para a geração de energia necessária à navegação. As atuais discussões sobre a substituição dos combustíveis fósseis são apenas mais uma evolução natural e cíclica da indústria, já observado anteriormente.

                Considerando as inúmeras evidências sobre a contribuição dos gases de efeito estufa (GEE) no aquecimento global, existe uma pressão natural da sociedade para que combustíveis fósseis, cuja queima gera gases poluentes, incluindo os de efeito estufa (dióxido de carbono - CO2, óxido nitroso - N20 e metano - CH4), tenham sua utilização revisada e que novas opções sejam consideradas na matriz energética. É importante ressaltar que ações tomadas hoje nesse sentido podem demorar muito tempo para serem notadas, de acordo com a taxa de decaimento do gás, cujo tempo de permanência do CO2 na atmosfera, responsável por 60% do efeito estufa no planeta, pode variar entre 50 a 200 anos.

                Apesar de a indústria marítima ser responsável por apenas 2,9% das emissões globais causadas por atividades humanas, uma proporção baixa considerando que é responsável pela movimentação de 80% de todas as cargas do comércio mundial, ela busca, ainda assim, contribuir e atender aos apelos da sociedade para desenvolver soluções limpas, nas quais os impactos ambientais sejam considerados na queima dos combustíveis fósseis. Nesse sentido, e em sintonia com o que a sociedade demanda, a Organização Marítima Internacional (IMO) colocou como objetivo reduzir a intensidade de CO2 em 40% até 2030 e as emissões totais de GEE em pelo menos 50% até 2050, tendo como base os níveis de 2008. Estima-se que pelo menos 70% dos combustíveis marítimos mundiais precisarão ser alterados ou modificados para atender tal desafio proposto.

                Dessa forma, a provocação da frase creditada a Don Hubert, no início do texto, indica que a substituição do combustível fóssil não se dará pela ausência de petróleo para produção de derivados, mas sim por uma demanda da sociedade para que as consequências de longo prazo da emissão desenfreada de gases de efeito estufa sejam revertidas e que novas tecnologias sejam adotadas. Sem dúvida, a escassez de petróleo no longo prazo é um cenário plausível, onde figura o grande paradoxo de que a natureza demorou milhões de anos para formar as reservas de hidrocarbonetos que utilizamos e que queimamos em uma velocidade surpreendente nos últimos 150 anos, mas a maior pressão se dará mais por uma necessidade de evitar os efeitos do aquecimento global do que pela falta de insumos necessários para a produção dos combustíveis fósseis.

                Independentemente do viés motivador por trás da busca pelas tecnologias renováveis, é notório que o mercado marítimo está determinado a encontrar caminhos que levem à redução de suas emissões e a um futuro mais sustentável do ponto de vista ambiental. Atualmente, a indústria endereça as preocupações relativas ao atendimento do requerimento IMO e suas próprias agendas de redução nas suas emissões da seguinte forma:

  • Compensação de Carbono: com a impossibilidade de zerar suas emissões de carbono, tornando-se carbono zero, as empresas oferecem transparência em suas emissões e neutralizam as mesmas, por meio da compra de créditos de carbono, tornando-se carbono neutro;
  • Eficiência Energética: redução das emissões utilizando novas tecnologias e visando a melhorar a eficiência das embarcações, como com a adoção de propulsores com aletas em seu centro  (propeller boss cap fins), sistemas anti-marisco, tecnologia de redução de arrasto, velas rotativas, novos projetos de embarcações etc.;
  • Redução na Velocidade: conhecido internacionalmente como “slow steaming”, que consiste na redução da velocidade de navegação para que, consequentemente, haja um menor consumo de combustível e uma redução nas emissões;
  • Otimização de Viagem & Frota: melhor programação operacional, otimizando a frota com compartilhamento de cargas e rotas mais eficientes;
  • Combustíveis Alternativos: substituição dos combustíveis fósseis convencionais por novos combustíveis como LNG, LPG, Biocombustíveis, Metanol, Hidrogênio, Amônia e combustíveis sintéticos.

O grande desafio perante os novos combustíveis – ou combustíveis do futuro – é que, apesar de existirem diversas iniciativas, a maioria delas ainda se encontra em fases iniciais, com testes e dados em constante atualização. Tal desafio, sem dúvida, traz grande incerteza aos armadores que necessitam tomar uma decisão sobre novas embarcações para os próximos 3 anos a 5 anos, já que não há um sinal claro de direção da indústria. A complexidade aumenta ainda mais quando consideramos que bancos e consórcios bancários, que financiam os investimentos de novas embarcações e retrofits, implementaram o Poseidon Principles, um acordo alcançado entre o setor financeiro e o setor de transporte marítimo para integrar as políticas da IMO sobre mudanças climáticas nos processos de tomada de decisão de financiamento de navios.

É importante destacar ainda que a adoção de algumas opções de novos combustíveis traz um grande desafio para pesquisadores e futuros usuários, uma vez que os atuais combustíveis fósseis demonstram ser imbatíveis quando aplicamos um conjunto de critérios relevantes como eficiência energética, preço, segurança no manuseio, infraestrutura instalada etc. Além disso, há uma clara vantagem na utilização de apenas um único combustível (ganhos de escala) e sua consequente redução nos custos de produção (ganhos de custo), além do grande benefício de que o principal insumo (petróleo) possui sua estocagem subterrânea, não concorrendo com culturas de plantio e terras agrícolas. No entanto, já há um consenso de que suas inúmeras vantagens, hoje, são superadas por sua principal e irrevogável desvantagem: maior quantidade de emissões de gases de efeito estufa e suas potenciais consequências no longo prazo.

Como será esse futuro e as fases pelas quais vamos atravessar é tema para um próximo artigo, mas, certamente, a partir da nossa experiência e fruto da nossa participação em diversos fóruns internacionais e discussões, podemos afirmar que teremos três fases distintas e com drivers bem claros na redução dos gases de efeito estufa (GEE), considerando os novos combustíveis.

Sobre o autor: Marcus Cabral, é Diretor de Novos Negócios da Bunker One

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