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Hidrogênio Verde – Uma nova alavanca para o desenvolvimento do Brasil, por Alberto Machado Neto

Redação TN Petróleo/Assessoria
22/04/2021 20:14
Hidrogênio Verde – Uma nova alavanca para o desenvolvimento do Brasil, por Alberto Machado Neto Imagem: Divulgação Visualizações: 1542 (0) (0) (0) (0)

O aquecimento global, o aumento da concentração de compostos de carbono na atmosfera e a poluição, de um modo geral, têm levado à busca de matrizes energéticas cada vez mais limpas e menos dependentes de combustíveis fósseis.

Os países mais desenvolvidos, muitos totalmente dependentes da importação de energia para movimentar suas economias, buscam constantemente soluções de baixo carbono e, do mesmo modo que o carvão foi substituído por fontes menos poluentes, o mesmo está acontecendo com o petróleo e logo irá acontecer com o gás natural que hoje, por ser mais “limpo”, é considerado o combustível de transição.

É nesse cenário que o hidrogênio - H2 surge como o combustível do futuro, dado que é o único vetor de energia molecular com emissão zero de carbono. É ainda o elemento químico mais abundante no universo e, quando queimado, libera apenas vapor d’água.

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Até agora, o obstáculo ao uso do H2 em grande escala tem sido o custo de obtenção, pois o hidrogênio só existe na natureza em combinação com outros elementos e, para separá-lo, é necessário grande quantidade de energia.

A esperança é que o H2 possa ser produzido de forma econômica a partir de energias renováveis, como a solar (fotovoltaica) e a eólica, por meio da eletrólise da água ou a partir de biomassa, como, por exemplo via reforma do etanol e, assim, se torne viável no curto prazo.

O produto resultante é o chamado H2 Verde, que é 100% sustentável e, embora a cada dia seu custo venha diminuindo, ainda é mais caro que as fontes mais poluentes, o que torna sua aplicação, como fonte de energia, ainda comercialmente inviável.

Ocorre que as pressões para reduzir a poluição têm levado países e empresas a apostar nessa nova forma de energia limpa, que muitos acreditam ser essencial para "descarbonizar" o planeta. A expectativa é o desenvolvimento de novas rotas tecnológicas, principalmente para uso em aplicações hoje poluentes, como em mobilidade, na siderurgia e na própria geração de energia elétrica.

A produção via eletrólise da água, ainda considerada economicamente inviável para uso em escala comercial, começa a se mostrar interessante quando é resultado da transformação direta da energia obtida por meio de um aerogerador ou de uma placa fotovoltaica, sem transitar pelo sistema de distribuição de energia elétrica atual.

Divulgação

A produção do H2 tende também a contribuir para a viabilidade de projetos offshore de geração eólica ou solar de grande potência, servindo para compensar as defasagens entre os picos de demanda e os períodos de maior incidência de ventos ou de insolação, que por natureza são intermitentes.

Sua introdução vai permitir que a energia seja convertida, armazenada, transportada ou transferida para locais distantes de consumo, aumentando a atratividade dos investimentos.

Como ainda existem desafios a serem superados para viabilizar o pleno uso, o H2 pode ser uma excelente oportunidade de envolvimento de nosso país em um segmento emergente, que certamente irá florescer em um futuro relativamente próximo.

O desenvolvimento de tecnologia em geração de energia renovável em grande escala e a viabilização do comércio global, tornam a mudança para a economia baseada no H2 cada vez mais real e expressiva já no horizonte de 10 a 30 anos.

O comércio internacional de H2 deverá aumentar significativamente, a exemplo do que aconteceu com o Gás Natural Liquefeito - GNL, que nos últimos 25 anos se tornou economicamente viável, a ponto de passar a ser tratado como mais uma commodity.

A cadeia de valor do H2 é extensa, envolvendo desenvolvimento tecnológico, projetos de engenharia, desenvolvimento de novos processos e novos materiais, máquinas e equipamentos, tanto a montante quanto a jusante de sua produção. São desafios logísticos incluindo, transporte, armazenagem e distribuição e de aplicação além da energia, como na mobilidade urbana e de grandes distâncias e na utilização como insumos de diferentes produtos que vão de fertilizantes a medicamentos.

Institucional

O Brasil, por sua extensão territorial, sua imensa orla marítima, a forte incidência solar e de ventos, possui todas as condições para se tornar um importante produtor de H2 em termos mundiais.

Mas, só isso não basta. Se não encararmos esse desafio de forma integrada e com uma visão de país, podemos nos tornar apenas exportadores de mais uma commodity de baixo valor agregado. Assim, é importante que dominemos aqui toda a cadeia de valor envolvida, em prol do desenvolvimento econômico e da geração de emprego e renda locais.

Entidades internacionais estimam um potencial de mais de US$ 11 trilhões de investimento na economia global do H2 até 2050.

No âmbito do Governo Brasileiro, o Conselho Nacional de Política Energética - CNPE recentemente determinou a elaboração de diretrizes para o Programa Nacional do Hidrogênio, estando assim consciente de que é necessário desenvolver toda uma infraestrutura de produção, armazenamento, transporte e distribuição do H2, pelo lado da oferta, bem como a inserção do energético na matriz de consumo em setores-chaves, como transportes, siderurgia e de fertilizantes pelo lado da demanda.

Para tanto é necessário estabelecer novas normas de segurança, novos desenhos regulatórios e todo um arcabouço legal que permita ao H2 alcançar níveis de competitividade e fontes de financiamento que abram caminho para o uso do H2 em grande escala.

Tudo indica que o Hidrogênio, em sua forma sustentável, o H2 Verde, vai ser o energético do futuro e como ainda estamos no começo, cabe a nós a criação de um modelo de desenvolvimento que coloque o Brasil nesse mercado com participação e domínio de toda a cadeia de valor. Está surgindo uma nova alavanca para o desenvolvimento do país.

Sobre o autor: Alberto Machado Neto, M.Sc. é Engenheiro Químico e de Petróleo. Mestre em Engenharia de Produção COPPE/UFRJ e MBA-AMP-INSEAD-França. Diretor de Petróleo, Gás Natural e Bioenergia da ABIMAQ, Presidente da Arcplan Consulting e membro do Conselho de Administração da CODIN-RJ. Ex-Presidente da Brasil Supply e Ex-diretor da Newpark Drilling Fluids do Brasil. Ex-Superintendente da ONIP. Na Petrobras, entre 1970 e 1999, exerceu funções gerenciais corporativas e de direção. Professor visitante da FGV.

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