Redação TN Petróleo/Assessoria
2022 chegou e a Covid-19, que já nos lembra do tempo que estamos envolvidos neste tema já no nome, nos mostra que assim como diversidade, ESG e inovação, também veio pra ficar. O problema é que a ficha ainda não caiu. Este ano, ao que tudo indica, será mais um ano de desassossego, preocupações e culpa. Pode ser de flexibilidade também, mas não posso dizer que na balança, os supostos ganhos se sobressaiam às perdas, de vidas, de esperança, de tempo, de confiança. O Carnaval está sendo suspenso um a um por todo o Brasil, a volta mais maciça aos escritórios depois de dois anos postergada em muitas empresas ou sendo recuada nas que já haviam aberto as portas, entre professores e alunos a discussão já é sobre com vai ficar o ano letivo de 2022.
No frigir dos ovos, a gente quer nossa vida de volta, a liberdade sem culpa, a vontade suprimida que provém da simples volta sem máscara e sem risco no quarteirão de casa. A verdade é que não queremos e não aguentamos mais máscara, nem falar de doença, de morte, de distanciamento e limitações para viver. Este é o novo normal. É no desassossego que ele reside em estado líquido, fluido, incerto, fragmentado. Um desassossego que em momentos raros se traveste de controle e segurança quando os picos de contaminação caem, mas tudo muito instável e nada de concreto.
O réveillon passou e só nos mostrou que o novo Coronavírus não vai embora tão cedo. Trata-se de uma questão biológica inerente à natureza do próprio vírus, e vale lembrar que ele não precisa nem de oxigênio pra sobreviver. A consciência sobre isso associada a todo esse tsunami de incertezas muda as vontades, os nortes, os objetivos de curto-médio-longo prazo da sociedade e isso impacta e impactará ainda mais o clima das pessoas e o teor das relações, quaisquer que sejam elas.
Tentamos nos convencer por meses que o fim disso tudo chegaria e estamos imersos no segundo coito interrompido consecutivo pós réveillon, o primeiro em 2020-2021 e outro agora na virada de 2021-2022. A utopia do orgasmo da liberdade depois das festas de final de ano, novamente esvai-se em saudosismos de quando éramos livres pré-março de 2020. Achamos novamente que íamos, mas não fomos. Quando achamos que começamos a saber e entender o tema, revivemos o ápice socrático e nos damos conta que só sabemos que nada sabemos.
Da janela da minha varanda, do décimo primeiro andar, eu vejo uma Lapa ainda boemia, mas na retaguarda, silenciosa, aquietada na marra. Muitos prédios comerciais do Centro do Rio estão por alugar ou a venda, o comércio sobrevive bem, mas as pessoas mal se falam, trocam olhares rápidos, pestanejam em dar bom dia, até dão, mas com cautela - uns mais outros menos.
A vida não voltou ao normal, nem nada próximo, prova disso é a própria virada do ano. Passei na casa de uma amiga em Copacabana, a praia por decreto e por bom senso, estava longe de algo próximo do normal ou melhor, do velho normal. O samba de quadra nos fins de semana foi para rua em dias aleatórios. Há aglomerações? Sim, mas tudo com mais cuidado, mais limite ou, pelo menos, mais receio e dúvida, mais cercas invisíveis que no lugar do arame farpado impõe-se a culpa que também corta - corta vínculos, corta relações, corta celebrações, corta momentos.
Desculpem-me começar o ano assim, e muitos de vocês poderão me achar pessimista, mas este texto é um convite à realidade dura do pós-pós-pandemia, e chamo de pós-pós, porque achamos que ela ia finalmente abrandar-se, mas parece que não. Estamos há dois anos querendo encurtá-la, acreditar que voltaremos ao que era antes, só que isso não acontecerá aparentemente tão cedo.
O vírus não sumirá do dia pra noite. É tanta informação e atualização que a própria formação da opinião entra em colapso. Não se sabe o que pensar, no que se acreditar, o que fazer. Talvez este seja um momento em que a fé precise ter tanta força quanto a ciência e se unam ineditamente pra não se contrapor, mas se fortalecer. O pensamento lógico, racional e objetivo para este assunto não funciona. É neste abstrato da indefinição que se constrói este momento da humanidade. É no invisível que se mora o perigo. Não estamos preparados para isso.
Voltamos a nossa infância, reassumindo hábitos e absorvendo a educação como novos aprendizes, redescobrindo formas de nos relacionar com o mundo, cheios de perguntas sem respostas na cabeça. Haja resiliência. Haja saúde mental. É hora de inventar, criar e viver o que dá para viver. Não há mais tempo pra deixar para depois, fingir ser o que não é, não dizer o que sente, não fazer o que se quer, não estar com quem se ama estar, trabalhar onde não se é feliz.
Corporativamente as empresas precisam ter isto em mente na hora de reter talentos e de se comunicar. Já vivemos em um estado de indefinição muito grande e as companhias podem e precisam garantir que este sentimento, dentro do possível, consiga ser mitigado. Prometer promoções pra daqui a seis meses não funciona mais; falar no gerúndio o que se vai entregar mais pra frente só gerará mais ansiedade e por isso, não há tempo para perder planejando ações que não são demandas dos funcionários ou comunicando iniciativas que não contribuem em nada ou não geram interesse da audiência interna. Mais do que nunca, o funcionário precisa ser parte do jogo, ser parte ativa na definição do futuro da empresa, ter poder de fala e liberdade pra opinar. Ele não apenas precisa ter voz, como precisa ser ouvido.
Nos EUA, um movimento interessante ganha corpo e pode estar antecipando uma tendência dos efeitos desse pós-pós-pandemia. Por lá, há vagas de sobra, mas não há trabalhadores que as aceitem nas condições oferecidas, com salário baixo e sem direitos trabalhistas garantidos. E isso inclui a falta de voz nas empresas, jornadas super estressantes, sem saúde mental e falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional. No Brasil, o desemprego beira os 14 milhões de pessoas de acordo com o IBGE, mas o volume de jovens que não trabalham, nem procuram emprego tem crescido nos últimos anos, e por vários motivos.
A pandemia traz à tona um movimento de revisitação de prioridades. Ou as empresas passam a olhar pra este movimento mais de perto, em especial neste momento de tanta insegurança, desconfiança e desassossego ou este momento pode ser uma ameaça a mais ao crescimento da economia e sustentabilidade dos próprios negócios.
O ano começou de novo meio estranho, ou melhor, este de fato é o tal novo normal que tanto nos recusamos a entender e aceitar. Feliz ano novo normal a todos nós.
Nova coluna
A pandemia de Covid-19 impactou empresas de todos os segmentos no mundo todo. Neste momento, em muitas companhias, a comunicação corporativa integrou ativamente os comitês de tomada de decisões e ocupou um lugar de protagonismo, em especial para combate massivo à desinformação e fake news. Pensando nisso, a revista TN Petróleo, que sempre teve seu olhar para o tema dentro do nosso setor, lança a partir de hoje, uma coluna exclusiva sobre o assunto.
Os textos abordarão temas gerais da comunicação organizacional interna e externa; relacionamento com imprensa; redes sociais e marketing digital; reputação e imagem e assuntos de discussão mais recente como cultura e marca; propósito e employer branding.
O novo espaço será editado por Lia Medeiros (foto), diretora de Comunicação, Sustentabilidade e Pessoas da TN Petróleo, e assinado pelo jornalista André Luiz Barros, que há 12 anos trabalha com comunicação corporativa e atualmente acumula o cargo de gerente de comunicação em uma empresa do setor de óleo e gás.
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