Redação TN Petróleo/Assessoria
Hoje, dia 17 de maio é celebrado o Dia Internacional Contra a Homofobia. Escrevi um artigo no ano passado e neste ano, cogitei a hipótese de não repetir a estratégia para sensibilizar leitores por aí. Bem enquanto esse pensamento me acometia a mente, na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), uma PL, a 504, ganhava espaço para ser votada. A ideia do projeto de lei era vetar propagandas com alusão a orientações sexuais e a movimentos pela diversidade sexual relacionados a crianças e adolescentes. Uma forma clara de colocar gays, lésbicas, bissexuais e transexuais para debaixo do tapete e pior, garantir com peso de lei, a invisibilidade de parte da população, historicamente rejeitada e perseguida. Mudei de ideia, se esta PL chegou tão longe, precisamos juntos ir além. E meu papel aqui é te mostrar como a homofobia, outrora explícita sem muitos melindres, hoje ainda que mais condenada, sobrevive resistente na penumbra, tristemente politizada.
Esta PL seguiu uma ótica interessante: “quem não é visto, não é lembrado”; logo, quem não é lembrado, simplesmente não existe. Aparentemente, para seus criadores, é mais fácil tapar o sol com a peneira, idealizando um mundo normativo em que não dar espaço a LGBTS é negar sua existência. O problema é que isso encoraja a reboque o extermínio utópico deste grupo.
Nós LGBTs passamos a vida inteira tendo que nos reinventar para sermos o máximo possível do que a sociedade espera, a ponto de em dados momentos termos dúvidas se nós somos nós mesmos ou aquilo que a sociedade espera que sejamos, tivemos que se desdobrar para sermos duas vezes melhores do que poderíamos ser porque sabíamos que teríamos entre todas as barreiras da vida, aquela extra que se sustentaria por sermos fora do padrão, tivemos que passar a ocupar o espaço dos bem humorados, dos bem vestidos, dos animados, dos alegres, dos conselheiros e sexualmente libertos ou baladeiros, puramente para ganharmos mais aceitação.
Nas empresas, a defesa é que promover a agenda de diversidade e aí em partes trazer a pauta LGBT à tona, é promover a criatividade. E é mesmo, mas parece ser só sob este argumento que conseguimos finalmente convencer de que LGBTS podem e precisam ocupar espaços também de prestígio cuja maioria sempre foi heterossexual. Há gays e lésbicas super criativos, gays e lésbicas humoristas incríveis; cabeleireiros e cabeleireiras homossexuais talentosíssimos, mas somos pessoas, somos mais que mentes criativas engraçadas e vaidosas. Gays e lésbicas existem e estão em todo lugar. Estão na liderança de grandes empresas globais, em hospitais liderando equipes em todo o Brasil, nos salões de beleza, nas obras levantando viadutos, estão em alto mar a bordo de grandes navios e em terra dando aulas de matemática, física, português. E é por isso, que precisam sim estar nas propagandas, nas novelas, nos realities shows, porque existem.
Por muito tempo, tudo que era sobre gays e lésbicas foi combatido e evitado e não à toa, eu e milhões de homens gays, passamos o que passamos nas escolas ou temos que lutar ainda mais driblando todas as inseguranças que a sociedade nos impõe para alcançarmos nosso lugar ao sol. Além da batalha diária pela formação acadêmica e busca por emprego, está também a batalha da aceitação própria e do outro, isso porque o olhar do outro acaba pesando na hora de escolher este ou aquele para assumir uma posição, e a busca permanente por ar em um ambiente quase sempre hostil e socialmente punitivo, que se orgulha exatamente de não nos aceitar, nos tratar como aberração, isso quando não, doentes mentais.
É interessante como a máquina do preconceito opera. A falta de representatividade que inclusive é percebida por mim enquanto homem gay, é uma dificuldade também para os próprios homens e mulheres heterossexuais, que não sabem como se comportar diante de determinadas situações, boa parte delas por não se interessarem em aprender mais sobre o assunto e blindarem de seus convívios o que lhes é diferente. Simulacros de respeito emergem daí: “Como se chama o parceiro do sexo masculino de um homem? É companheiro?”. É marido! A língua portuguesa é uma só. O Brasil é um só. A lei é uma só também.
Dia desses fui convidado para um evento social e não recebi um convite desses maiores para eu e meu noivo William, nosso relacionamento é público por isso seguramente era de ciência do anfitrião da festa. Minha irmã que tem hoje um relacionamento heterossexual com a benção divina da Igreja e do cartório recebeu, meus pais também, e por mais que o William tenha ganhado um convite individual, não recebemos o convite padrão porque não fomos entendidos como família e por esta razão, ficamos como indivíduos extensivos da família do meu pai sob o argumento de que ainda não somos casados, como se todos os convidados fossem casados perante a lei. E se não fomos compreendidos, das duas uma, ou se quer longe eu e meu noivo e só se convida por obrigação; ou não se sabe como se comportar com algo que em 2021 ainda não soa como natural – dois homens juntos. Prefiro acreditar na segunda opção.
Cresci assistindo filmes, novelas, propagandas e tendo referências heterossexuais, na família e na escola, ainda assim, tenho convicção da minha orientação sexual. Isso não me surpreende, só se reitera que não dá para se inventar leis para evitar, corrigir ou curar uma pessoa de ser simplesmente quem ela é, especialmente para afastar dela aquilo que a representa como é a proposta da PL 504. Não foram essas produções culturais que percorreram toda a minha vida o que definiu se eu iria gostar de homem, de mulher ou dos dois, o que também é uma possibilidade. Não somos má influência por ser quem somos. Somos um mercado potencial de consumo estimado em mais de R$ 418 bilhões de acordo com um estudo feito pela consultoria norte-americana Out Leadership; somos a maior parada LGBT do planeta, já tendo reunido 4 milhões de pessoas na Av. Paulista, em São Paulo. Movimentamos mais de 700 empresas para combater o que defendia a tal PL 504. Somos muitos e estamos em todo lugar.
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