Mestre em metrologia científica e industrial, Carlos Aurélio Pezzotta, diretor de negócios da empresa Photonita Metrologia Óptica fala sobre o que é real e o que seria ideal em relação a dutos enterrados para transporte de derivados de petróleo ao longo de extensas regiões. Artigo exclusivo
Carlos Aurélio PezzA importância da medição precisa de tensões residuais em dutos
Por Carlos Aurélio Pezzotta*
Num mundo ideal, dutos enterrados ao longo de extensas regiões para o transporte de derivados de petróleo (óleo, gás e combustível) estariam expostos apenas aos esforços da pressão interna do fluido transportado. No mundo real, este é apenas uma componente do complexo estado de tensões nas paredes de um duto enterrado. Pelo menos quatro fatores geram tensões, além do primeiro: o processo de montagem, as tensões de origem térmica, as decorrentes da interação duto/solo e as tensões da fabricação.
Nesse contexto, as tensões residuais são especialmente perigosas pelo fato de se somarem às tensões de serviço. Sua combinação pode atingir valores próximos e até superiores ao admissível pelo material. Esse comportamento pode levar ao colapso silencioso do sistema. Sendo assim, a determinação e a quantificação do estado de tensões em um duto passa a ser de grande importância para a indústria de petróleo e gás, principalmente quando são considerados os possíveis danos à natureza decorrentes de seus rompimentos.
Os métodos tradicionais não conseguem resgatar toda a história de carregamento do material de um duto instalado em campo. Para a tarefa, é necessária uma metodologia de medição absoluta. Entre as mais populares, está a difração de Raio X, que tem como vantagem não ser invasiva; porém, sua limitação é a profundidade da região medida, não refletindo o estado de tensões que agem no núcleo de uma estrutura. Outros fatores que depõem contra o uso de Raios X em campo são a portabilidade limitada e riscos de insalubridade trazidos pelo contato com a radiação.
Já o método do furo cego é sem dúvida o caminho mais usado, principalmente em ações em campo para medir o estado de tensões de forma absoluta, sendo normatizado pela legislação do setor (Norma ASTM E 837-01). Apesar de o processo ter caráter semi-invasivo, a presença do furo não põe em risco a integridade de um duto, pois ele é pequeno quando comparado com a espessura da parede do tubo. Em alguns casos, após a medição estar completada, aplica-se uma ferramenta abrasiva para produzir um “adoçamento” da região do furo, deixando a região geometricamente suave.
Há duas formas de medir a movimentação do material em torno do furo: com extensômetros de resistência elétrica e com métodos ópticos. Em ambos os casos, uma turbina pneumática de ultra-alta rotação e um dispositivo de avanço fino executam o furo com uma fresa de topo similar às usadas pelos dentistas. No primeiro caso, os dutos são preparados e instrumentados com três extensômetros de resistência, que são conectados a uma ponte amplificadora. A furação pode ser executada em passos de 0,2 mm até que a profundidade final, tipicamente de 1,6 mm, seja atingida.
Com o método óptico, ao invés de extensômetros, um interferômetro que usa laser é aplicado para medir o campo de deslocamentos em torno do furo executado. Uma base universal é firmemente fixada à superfície a ser medida por meio de fortes ímãs de terras raras. Um conjunto de três pontas afiadas é usado para nivelar a base, mantê-la na altura certa e impedir movimentos relativos base/superfície a medir.
A base contém um apoio formado por três pares de cilindros nos quais são apoiadas três esferas. A superfície a medir é então iluminada pelo laser e uma sequência de imagens é adquirida pelo sistema. A profundidade da furação é controlada por um parafuso micrométrico com indicador digital. Aos poucos, nova medição é realizada, perfazendo o total de um a cinco passos intermediários ou de uma única vez. As vantagens da medição óptica frente ao método extensométrico dizem respeito à maior flexibilidade para uso de diferentes diâmetros da ferramenta de furação, maior quantidade de dados extraídos da região e redução do tempo de medição para cerca de um quarto do necessário pelo método anterior. Além disso, o método óptico é bem menos exigente em termos de preparação da superfície, pois dispensa a colagem de transdutores no duto e a utilização de material tóxico, como a acetona.
A tecnologia óptica utilizando a holografia eletrônica foi desenvolvida em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina e é oferecida ao mercado brasileiro através da empresa Photonita, localizada na incubadora CELTA, de empresas de base tecnológica inovadora de Florianópolis. Inédito no mercado, o sistema tem sido utilizado por grandes empresas petrolíferas e de distribuição de gás e consiste em inovação totalmente brasileira.
*Graduado em Administração de Empresas, em Engenharia de Controle e Automação Industrial e mestre em Metrologia Científica e Industrial. Atualmente é diretor de negócios da empresa Photonita Metrologia Óptica. Possui conhecimentos na área técnica, com trabalhos na área de metrologia óptica, desenvolvimento de software e sistemas automáticos de medição. Possui mais de 8 anos de experiência na área de estratégias de mercado, reposicionamento estratégico e estruturação de negócios. Atua na Photonita como Diretor de Negócios.
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