O mercado de trabalho está mais diverso, é verdade. Mas o caminho para a inclusão e diversidade nas empresas ainda é longo. Para o professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) e especialista na área Marcus Vinícius Bomfim, o cenário tem melhorado quando olhamos para números generalizados, mas quando observamos outros grupos sociais marginalizados como indígenas, mulheres negras e a população LGBTQIA+ não-normativos, há ainda muito preconceito na oferta e na conquista de vagas.
A seguir, ele analisa como anda a inclusão de alguns grupos sociais que historicamente são mais marginalizados no mercado de trabalho.
POPULAÇÃO PRETA E PARDA
Na opinião do especialista, a questão da diversidade nas empresas no Brasil melhorou nos últimos anos em relação ao volume de ofertas de vagas para contratação de pessoas pretas e pardas em início de carreira. Porém, quando aproximamos o olhar para a questão das faixas etárias, ou ainda composições familiares, o cenário ainda é excludente e desafiador.
"As escolhas das empresas em larga escala estão voltadas a talentos mais jovens e com boa escolaridade, sendo absorvidos nos quadros funcionais das empresas. A questão é mais delicada é quando falamos de negros e negras mais velhos, sobretudo as mulheres negras mais experientes, que são deixadas de lado. A primeira barreira a se quebrar é a da identificação desses profissionais. O segundo aspecto é o enfrentamento do racismo estrutural na sociedade brasileira: não basta contratar profissionais negros sem entender quais são as razões dessa discriminação que perdura até hoje, em pleno século 21".
Segundo o IBGE, o Brasil é um país majoritariamente feminino, composto por pessoas pretas e pardas. E isto não se reflete na grande parte da ocupação de postos de trabalho. Para o especialista, as empresas precisam educar os seus colaboradores para o enfrentamento e o reconhecimento desta realidade. Quando se fala em inclusão e diversidade nas empresas, geralmente pensamos em grandes corporações, mas as pequenas e médias também precisam ir atrás de profissionais para tornar seus times mais diversos.
"As empresas precisam posicionar essas pessoas dentro da organização de forma que agreguem valor às equipes, não só do ponto de vista técnico, mas também no aspecto de comportamentos e atitudes para seus negócios, pois essa diversidade ajuda a empresa a olhar para segmentos da população que foram invisibilizados pelo racismo estrutural, e que os dados podem nublar a visão. Superar o racismo é um compromisso da nossa sociedade para o bem viver e para o desenvolvimento econômico de todos", opina.
RESISTÊNCIAS CONTRA A DIVERSIDADE
O professor lembra que há um conjunto de entraves para a inclusão, gerando muitas resistências contra a diversidade concreta, não só aquela que vemos nas propagandas. Por conta de algumas lideranças que evitam discutir o acolhimento dentro das organizações e buscam atalhos neste desafio da gestão para qualquer negócio hoje em dia.
"Há líderes que são resistentes à questão da discussão sobre diversidade dentro do seu ambiente de trabalho, no trato com os colegas. Como um líder poderá de fato engajar o time em sua área, se ele ou ela são refratários a esta diversidade? As empresas devem não só divulgar posicionamentos e políticas pró-diversidade em favor da inclusão, mas dedicar especial atenção à educação para diversidade às lideranças, em todos os níveis da organização, pois a responsabilidade deve ser compartilhada".
E é por conta da mentalidade conservadora de alguns líderes, que o professor defende mais políticas de inclusão centradas na educação patrocinadas por empresas. "As novas gerações convivem e experimentam muito mais a diversidade e a pluralidade. Mas a gente não pode esperar o tempo de cada organização para que as novas gerações se tornem líderes, porque aí estaremos falando de ocupações de postos chave de trabalho que levariam anos para serem absorvidas. Não podemos esperar um salto geracional para acomodar a diversidade".
PESSOAS TRANS E MULHERES NEGRAS PRECISAM SER INCLUÍDAS
Bomfim lembra que a legislação brasileira é bastante avançada quando se fala em inclusão, como as leis que garante cotas para negros e pessoas com deficiências para acesso ao ensino superior e no quadro funcional das empresas. Mas, entre todos os grupos sociais com baixa proporcionalidade nas empresas, a população transexual e as mulheres negras - também pelo estigma que a maternidade imprime nas mulheres - são as que mais sofrem com a falta de inclusão na sociedade.
"A legislação que existe em relação à homofobia e à violência contra pessoas transgênero talvez pudesse ser mais reforçada do ponto de vista da informação à sociedade para maior sensibilização, como a questão da violência contra a mulher, a transfobia, por exemplo. Existe a legislação, mas a aplicação dela tem sido aquém do necessário. A mulher negra também sofre mais, especialmente por serem mulheres e negras".
EQUIDADE
Por fim, o professor diz que precisamos olhar a diversidade, de fato, com um olhar diverso, que transborde as caixinhas do negro, de mulheres, de pessoas com deficiência, da gordofobia. Essa abordagem interseccional também é fundamental ser exercitada pelas empresas, pois dá maior capacidade da organização analisar melhor sua realidade interna como um reflexo mais positivo para a sociedade.
"Temos que olhar a sociedade reconhecendo a pluralidade da nossa sociedade. A sociedade brasileira precisa entender que a diversidade não está só presente no ambiente de trabalho, mas passa essencialmente por todas as nossas atividades cotidianas, nas nossas relações familiares, nos supermercados e shoppings, no transporte público e nos aplicativos, nas lojas que consumimos", finaliza.
O especialista: Marcus Vinícius Bomfim é relações-públicas, consultor em comunicação e diversidade. Mestre em Ciências da Comunicação pela USP e Doutorando em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor dos cursos de Relações Públicas e Publicidade e Propaganda na FECAP.
Fonte: Redação com assessoria
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