A crise sanitária global, que teve início em 2020, consolidou mudanças profundas em diversos níveis e setores, com reflexos significativos nas pessoas e nas relações humanas e de trabalho. Nesta última, especificamente, alguns sintomas já são fatos: A Grande Resignação (The Great Resignation ou The Big Quit), termo cunhado por Anthony Klotz para explicar as demissões em massa que se espalharam pelo mundo em 2021; o aumento dos casos de burnout e demais questões relacionadas à saúde mental; além da descentralização do ambiente de trabalho - primeiro o home office e, agora, os tantos modelos desenhados com o retorno aos escritórios.
De um lado, pessoas transformadas, que fizeram acontecer uma nova dinâmica de trabalho em suas casas (ou seria uma nova casa em suas dinâmicas de trabalho?) ao longo de um período longo e intenso repleto de incertezas e desafios. De outro, organizações que sobreviveram aos últimos anos e que buscam retomar o ritmo e resgatar uma cultura que ganhou novos contornos e variáveis.
Diante de tais urgências, ficam evidentes os percalços das empresas em se sensibilizar. Não dá mais para enxergar o colaborador de maneira isolada e avaliá-lo apenas por suas habilidades táticas. É imprescindível desenvolver uma nova percepção que considere fatores emocionais e filosóficos em busca de novos valores compartilhados. O que realmente importa para quem trabalha nesta organização? O que faz sentido conservar e o que é preciso transformar nas relações de trabalho de hoje?
Os símbolos, rituais e comportamentos corporativos foram ressignificados com a vida digital. As relações ganharam outro nível de intimidade, apesar do distanciamento. Mais empatia, apesar do sofrimento. Novas conexões, apesar do desconhecimento.
Ao mesmo tempo, o trabalho ganhou outra intensidade, o relógio ganhou nova pontualidade e o contexto forçou maior assertividade e objetividade nas tomadas de decisão. O propósito, razão de existir de uma organização, concentra cada vez mais relevância e importância estratégica, dando sentido e significado às relações com seus principais stakeholders, a começar pelos colaboradores.
Neste novo contexto, o ESG (sigla em inglês para boas práticas ambientais, sociais e de governança) é a pauta da vez - não dá pra ficar fora dessa. O olhar para a cultura organizacional precisa caminhar para promover uma melhor governança. O olhar para as pessoas se desdobra em novas metas corporativas e encontrar a medida exata para equilibrar e responder às demandas da sociedade nunca foi tão desafiador.
Para atrair e manter talentos, reduzir a rotatividade e os índices de adoecimento e descontentamento corporativo, as corporações precisam compreender meios para avaliar o trabalho e não somente o desempenho. A inclusão e a diversidade precisam sair do rol de intenções e adentrarem à prática, prevendo capacitações, adaptações e transformações no percurso.
As crenças precisam virar compromissos e os novos acordos precisam ser claros, assim como as consequências caso o que foi pactuado não seja cumprido.
No fundo, o que a gente não pode esquecer nunca é que as empresas são um conjunto de pessoas. Pessoas conectadas por uma relação que precisa ser ressignificada para dar conta dos desafios deste mundo novo. Pessoas que experienciaram um novo modelo de trabalho e descobriram que o tão sonhado equilíbrio entre vida pessoal e profissional está no entendimento de que a vida, na real, é uma só. E que é possível -- e preciso -- rever acordos e condições para que o que foi aprendido e conquistado neste longo e intenso período de reclusão, seja o ponto de partida para repensar o papel das empresas na sociedade e sua relação junto a todos os seus stakeholders. A começar pelos colaboradores.
* Renata Barbosa é Diretora de Estratégia da CAUSE, consultoria especializada na gestão de causas, via estratégias de comunicação, engajamento, advocacy e ESG.
Fonte: Redação com assessoria
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