Os últimos cinco anos foram testemunhas de enormes mudanças em nossas vidas profissionais, com a pandemia da Covid-19 anunciando uma nova era de trabalho remoto e IA generativa pronta para transformar o mercado de trabalho.
Assim, o que essas mudanças representarão para os trabalhadores de amanhã? É claro que ninguém tem uma bola de cristal, porém com base em pesquisas de membros do corpo docente da Kellogg, destacamos algumas possibilidades.
Muitos de nós nos perguntamos ansiosamente se e quando a IA transformará nosso trabalho. E embora seja difícil de prever os efeitos precisos, podemos aprender com as mudanças tecnológicas do passado.
Pesquisas recentes de Dimitris Papanikolaou e Bryan Seegmiller (professor titular e professor assistente de finanças, respectivamente) examinaram como as principais inovações introduzidas entre 1981 e 2016 afetaram os trabalhadores e seus salários.
Papanikolaou, Seegmiller e outros colegas se concentraram nas chamadas patentes inovadoras, as que eram muito diferentes das anteriores, e se tornaram muito influentes em patentes futuras. Também tiveram o cuidado de distinguir entre ferramentas que substituem trabalhadores e as que os complementam.
Os pesquisadores descobriram que, quando uma nova ferramenta é capaz de executar uma tarefa no lugar de uma pessoa, todos os trabalhadores afetados sofrem. “Eles passaram por uma perda de ganhos salariais, e isso em grande parte não dependente da idade, do nível de renda, do setor em que trabalham, do tipo de trabalho que fazem ou do fato de ter ou não um diploma universitário", diz Papanikolaou. No entanto, quando uma nova tecnologia complementa os trabalhadores que executam uma tarefa, os efeitos são mais variáveis: os trabalhadores mais experientes e altamente remunerados sofrem, enquanto as novas contratações parecem se beneficiar.
Os pesquisadores também estudaram as possíveis ramificações da IA nos trabalhadores da atualidade. A “IA, como tecnologia, nivela o campo de atuação dentro de uma determinada função”, diz Papanikolaou. Em outras palavras, se todos souberem codificar, um programador qualificado e experiente será menos valioso no mercado de trabalho. O resultado é que "isso irá prejudicar os melhores trabalhadores".
Quatro anos após o início da pandemia da Covid-19, muitos trabalhadores ainda estão em home office pelo menos parte do tempo, e esses trabalhadores geograficamente flexíveis relatam aumentos de produtividade e satisfação.
No entanto, uma pesquisa realizada por Hyejin Youn, professora associada de gestão e organizações, descobriu que o trabalho remoto tem desvantagens no que se refere à aprendizagem no trabalho.
Ao analisar mais de 17 milhões de publicações científicas nos últimos 45 anos, Youn e Frank van der Wouden, da Universidade de Hong Kong, descobriram que, em comparação com equipes que colaboram à distância, os pesquisadores cujos colaboradores se encontravam no mesmo local tinham muito mais propensão de obter novos conhecimentos de seus colegas de trabalho. A tendência foi especialmente acentuada para pesquisadores em ciência e engenharia, bem como para estudiosos em início de carreira.
Para Yon, essas descobertas sugerem que estar juntos fisicamente – poder ler a linguagem corporal, refletir sobre problemas escrevendo em um quadro branco e se unir para usar equipamentos de laboratório especializados – é bastante importante quando o conhecimento ainda não está solidificado.
Obviamente, isso não significa que devemos colocar de lado o trabalho remoto. Youn sugere que as empresas devem encontrar a combinação exata de funcionários trabalhando em home office, onde possam ser produtivos, e no escritório, onde possam trabalhar juntos para criar novos conhecimentos; as empresas focadas em inovação devem ter um cuidado especial para encontrar o equilíbrio certo.
“Reúna as pessoas para que possam trocar ideias pessoalmente", diz Youn. “Somos incrivelmente bons em aprender uns com os outros, especialmente nessas formas obscuras que levam à inovação”.
Assim, e o que acontece quando os funcionários não estão juntos no escritório, aprendendo uns com os outros? Se a última década for uma indicação, algumas almas aventureiras se mudarão para o exterior. Cidades famosas, como Paris e Veneza, passam por uma onda de chegadas de estrangeiros de países ricos, com seus laptops em mãos e olhos brilhando para morarem nestas cidades por alguns meses ou até mais tempo.
Entre os residentes, as reações são mistas. Os estrangeiros ricos fazem compras em lojas e frequentam restaurantes locais, mas, por outro lado, causam aumento nos aluguéis, no transporte e no congestionamento, além de transformar a cultura do local. Para os governos, é complicado desvendar como equilibrar esses custos e benefícios.
Alguns países, convencidos de que o sacrifício vale a pena, incentivaram ativamente os estrangeiros ao oferecer subsídios habitacionais; outros adotaram a abordagem oposta e restringiram totalmente que os aspirantes a expatriados adquirissem casa própria ou impuseram enormes tributos para a compra de propriedades. Qual seria a melhor estratégia?
Nenhuma, segundo pesquisa de Sergio Rebelo, professor de finanças. Com seus colegas, Rebelo criou um modelo matemático para testar diferentes abordagens políticas. Identificaram uma espécie de solução equilibrada: tributar os ganhos de capital pela venda de propriedades para todos e usar o produto da venda para ajudar a compensar os danos causados aos habitantes locais. Essa abordagem de impostos e transferências fornece "uma solução ganha-ganha", diz Rebelo.
A pesquisa também destaca algumas abordagens de longo prazo que os países podem adotar à medida que se adaptam às suas novas realidades. Em Paris, por exemplo, algumas empresas mudaram seus escritórios para distritos periféricos, abrindo caminho para turistas e outros estrangeiros nos distritos centrais. É uma cidade diferente, mas isso não é necessariamente algo ruim. Afinal, diz Rebelo, “as cidades são como um organismo vivo e se transformam organicamente ao longo do tempo”.
Quando inundações extremas, incêndios florestais ou secas atingem uma determinada região, o mercado de trabalho nessa área obviamente será afetado. Por exemplo, se um clima excepcionalmente seco arruinar a safra local, os funcionários da fazenda podem ser forçados a procurar novos empregos.
Porém, a pesquisa de Jacopo Ponticelli, professor associado de finanças, mostra que os efeitos econômicos do clima extremo persistem muito além das consequências imediatas, à medida que os trabalhadores migram para outras áreas – e o fluxo de capital vai embora com eles.
Em um estudo de dados do Brasil, Ponticelli e seus colegas descobriram que áreas que passam por seca incomum sofreram grandes declínios na produtividade agrícola e no número de empregos. A curto prazo, os empréstimos foram direcionados para as regiões atingidas. No entanto, quando as condições secas persistiram por uma década, esse fluxo financeiro diminuiu, seja devido às pessoas terem ido embora ou em decorrência de os bancos emprestarem menos dinheiro.
Muitos trabalhadores nessas regiões recém-áridas se mudaram, muitas vezes para centros urbanos. No entanto, as transições nem sempre deram certo, descobriram os pesquisadores. Embora alguns migrantes tenham conseguido novos empregos na agricultura ou no setor de serviços, tiveram muita dificuldade para entrar na indústria manufatureira, talvez porque não tivessem habilidades ou conexões sociais.
Ponticelli argumenta que os formuladores de políticas precisarão fazer mais para ajudar os trabalhadores deslocados a encontrar emprego, uma vez que tais migrações provavelmente só se intensificarão no futuro. “Esses choques climáticos geram muita realocação de mão de obra”, diz Ponticelli. “Se formos em direção a condições cada vez mais secas nessas áreas, que é o que todos os modelos climáticos preveem, veremos ainda mais realocação”.
Se já usou uma plataforma digital, há uma boa chance de também ter sido um sujeito experimental. Plataformas como Uber e LinkedIn normalmente têm milhares de testes em execução em qualquer momento específico. Não são apenas os clientes que se tornaram cobaias involuntárias, mas também os milhões de pessoas que dependem desses aplicativos para trabalhos temporários.
Hatim Rahman, professor assistente de gestão e organizações, queria entender como esse status quo surgiu e o que isso pode significar para os trabalhadores no futuro.
Para responder a essa pergunta, Rahman e seus colegas usaram dados do QuickHire, pseudônimo de uma das maiores plataformas digitais de trabalho do mundo. Eles descobriram que, entre 2004 e 2020, a QuickHire passou por três "regimes de experimentação". No início, a experimentação era explícita e realizada apenas com pessoas que voluntariamente optaram por participar; no segundo estágio, a experimentação tornou-se oculta, com os trabalhadores participando de estudos sem serem notificados ou sem terem dado consentimento para tal; e no estágio final, a experimentação foi ilimitada e muitos experimentos foram executados simultânea e continuamente.
Rahman e seus colegas ficaram surpresos com a forma como os trabalhadores enfrentaram essa fase final: sem questionar essa prática ou debandar da plataforma. “Em vez de observar a saída coletiva dos trabalhadores, descobrimos que eles a aceitaram de forma resignada”, escreveram os pesquisadores.
Ainda assim, as organizações prestam um serviço contra a si mesmas ao não contabilizar os impactos de longo prazo da experimentação oculta e ilimitada, argumenta Rahman. Por um lado, a integridade dos próprios experimentos pode ser prejudicada por participantes desiludidos que esperam que qualquer pequena mudança que ocorram faça parte de algum teste maior. Os experimentos também podem representar um desafio para a moral da equipe.
Isso não significa que as plataformas precisem acabar completamente com a experimentação. Ao contrário, os pesquisadores propõem que haja medidas para fazer com que esses testes sejam mais transparentes e responsáveis. Por exemplo, as organizações podem formar conselhos internos – ou unidades independentes de supervisão externa – para supervisionar a experimentação e garantir resultados úteis e perspicazes para líderes e trabalhadores.
Texto: Susie Allen
"Previously published in Kellogg Insight. Reprinted with permission of the Kellogg School of Management."
Imagem: Pexels
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